AMANTE DE AQUILES
O político vive assinando papel e decidindo a vida dos outros. Quando morre todos são iguais, mas o destino pode ser diferente.
Se a esposa acha que manda no marido, a amante ordena, chantageia e ameaça. Outro dia fui pedir proteção a São José e observei um ajuste de contas regado a pedras. Um homem e duas mulheres discutindo sobre a vida e velando um senhor idoso.
- Tô comendo sushi de marmita para a Senhorita luxar de Louis Vuitton – disse uma senhora – apontando para o objeto de desejo.
- Cada um se defende com suas armas. Sendo assessora parlamentar, a minha é a informação – falou a moça.
- A da esposa é ter conta conjunta e deslizar o cartão de crédito – disse a viúva.
- A do detetive é a escuta telefônica, a caneta espiã e umas fotos comprometedoras – falou o homem.
- Verdade, agora basta o boleto do carro vencer, o da faculdade atrasar ou a mãe adoecer, que começam as ligações e mensagens de saudades das amantes – completou a senhora.
- Termo chulo falar em amante – retrucou a bela jovem – mulheres que amam demais. O mundo está muito machista.
- Sei... amar custa caro! O Doutor gastou muito se divertindo com as garotas, completa o Detetive.
- Sério, não sabia que o Aquiles era comedor assim, em casa só andava com dor de cabeça.
- Isso é o que diz. Pelo que levantei, o Dr Aquiles tinha três filhos fora do casamento.
- Não fale isso que perco o chão.
- Pois que perca! Até hoje não recebi o combinado. Nem consigo pagar meu aluguel.
- Se controle, meu senhor. Um homem sem-teto perde a esmola, mas não perde a vergonha – filosofou a amante.
- Não vamos discutir por milhões em malas, nos encontraremos na justiça! – sentenciou a esposa traída.
- Minhas senhoras, Dr Aquiles tinha um grande coração, malhado e inchado nas carreiras de pó e regado a whisky. Uma pena que uma flecha envenenada acertou seu coração: infarta abandonado no motel.
- É o fim de quem se achava invencível – murmurou a esposa em lágrimas.
- Foi-se embora e ficamos a contemplar o seu legado político – diz a assessora baixando a cabeça.
- É verdade... minhas caras, como dizia meu mentor Sherlock Holmes: “você vê, mas não observa!” Por isso irei lhes contar uma história de detetive:
“Conheci umas raposas políticas muito ligeiras e astutas, mas tinham um ponto fraco: suas ex- amantes. E pensar que o homem mais vingativo é o infiel. Assina um contrato tácito de troca de casais. Quando descobre que não trai sozinho, surta e quer matar ou morrer - estilo faroeste - grampo telefônico, grilagem, tráfico de influência e sacanagem.”
- Até então não ouvi nenhuma novidade – pontua a jovem.
- Não percebe, sei o porquê: cegueira ambiental – diagnostica o araponga, e continua a história: “Em rodas de políticos, estes viram lobos e se acham os mais poderosos da matilha de senis. Entretanto, esquecem que o dinheiro que paga essa rachadinha, sai do erário e entra nos mesmos bolsos: amantes coletivas e sugar baby. Sempre digo que em terra de Babel é difícil agradar a gregos e baianos falando em línguas.”