Hilário, Hilária e o Maiô
15.09.22
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Hilário acompanhou toda a cena da saída da praia do dono e seu cão faminto provocada por Hilária. Ficou maravilhado com a atitude da sua nova amiga. Sentia algo muito diferente por ela. Olhava-a com outros olhos, de uma forma que nunca antes tinha lhe acontecido. Seria ela a sua cara metade?
-Bem agora que o pobre do cachorro faminto se foi com seu dono insensível, pois não o alimenta direito, podemos aproveitar melhor a praia, não acha Hilário?
-Sim, claro!
-Então, poderia me contar um pouco da sua vida, pois acabamos de nos conhecer pela casualidade do voo do seu guarda-sol e nada sei sobre você – disse-lhe imperativa.
Hilário ficou sem jeito pela objetividade da questão dela e balbuciando respondeu:
-Sa, saber da minha vida? Bem...
-Vamos, não seja tímido! Conte-me o que faz, o seu trabalho, a sua família, o seu passatempo, que depois eu falo sobre mim.
-Certo! Sou filho único, minha mãe é separada há muito tempo, trabalho em um órgão da prefeitura da minha cidade e estou no mundo para ajudar o próximo - é minha missão, fazer boas ações às pessoas, resumidamente.
-Ah, interessante! E como faz essas boas ações ao próximo?
-Em qualquer situação na qual alguém possa estar correndo algum risco de se acidentar, ou vir a se machucar - alimentar o cão faminto, é um exemplo, ou como a sua atitude de mostrar ao dono dele que é proibido animais na praia.
-Entendi! Tenho também esta intenção de ajuda ao próximo, mas nem sempre a aplico, pois as pessoas reagem de maneiras diferentes, algumas não gostam.
-Bem, às vezes isso acontece sim.
-Vamos entrar no mar? Está muito quente, não? – sugeriu ela.
O casal levantou-se. Ele com sua bermuda laranja bem justa, ela de maiô vermelho sangue, vestimentas que salientava toda “redondice” dos dois. Ambos usavam os mesmos óculos de aros redondos. Parecia que um era a versão do outro no sexo oposto. A brancura de suas peles já se avermelhava. Era uma cena hilária vê-los caminhando em direção ao mar.
Chegaram às ondas que quebravam mansamente junto aos pés. Hilária foi adentrando mais na água, na qual tinha outros banhistas e crianças aglomerados fazendo uma grande algazarra na agua fresca. Hilário seguiu Hilária.
Então, uma enorme onda pegou-os de surpresa, pois estavam de óculos que embaçaram pela maresia e não viram a chegada repentina da massa líquida, fazendo com que rolassem e fossem arrastados pela força da agua para a praia, encontrando-se com outras pessoas também levadas pelo vagalhão.
Hilário perdeu seu óculos. Preocupado, procurou por Hilária e viu ao seu lado com sua vista baça, um vulto feminino baixo e gordinho de maiô vermelho sangue como o dela, ajoelhada na beira da agua. Ele a segurou pela cintura, tentando ajuda-la a se levantar, pensando ser Hilária.
Recebeu um tapa nas mãos e um grito:
-Me larga seu gordinho safado!
-Desculpe-me minha senhora, pensei que fosse a minha amiga , que como eu, foi arrastada pela enorme onda que nos pegou de surpresa e me fez perder meu óculos. Mil perdões! – falou com sua voz estridente e fina.
-O que foi querida? O que está acontecendo? - escuta Hilário uma voz masculina vindo em sua direção. Ele só distinguia um vulto alto.
-É este gordinho aqui querido, com voz de taquara rachada, querendo se aproveitar de mim que fui arrastada pela onda, e veio me apalpar! – disse ela de forma ríspida e alta.
-Não, não foi isso o que aconteceu não senhor! Eu também fui arrastado pela forte onda com minha amiga e perdi ela e meu óculos. Ela usa um maiô igual e da mesma cor do da sua senhora e pensei que fosse ela, por isso que tentei levantá-la. Mil desculpas pela confusão – falando à imagem indecifrável a sua frente.
Uma multidão já se formava em volta deles, pois o assunto era interessante e esperavam que algo acontecesse. O marido, ou o companheiro era alto e forte, contra Hilário baixinho, redondinho e cego - seria muito díspar a contenda. Mas, as pessoas parecem gostar de conflitos, ainda mais em condições tão desiguais.
A tensão pairava no ar, mas Hilário com a sua boa fé não a sentia. O homem aproximou-se de Hilário e o mirou de alto a baixo, percebendo que seus olhos estavam muito fechados e enrugados, mostrando que fazia força para enxergar.
-Então o senhor perdeu os óculos na onda? E que sua amiga tem o mesmo maiô que minha mulher? Não é muita coincidência numa praia tão cheia de gente? – disse o homem de forma autoritária e firme.
-Sim, eu o perdi rolando na onda. E minha amiga, ela se perdeu ou se afogou!
O homem chegou perto de Hilário, cuja altura chegava somente até o peito do marido, como que para dar um soco, quando uma voz feminina, estridente como a de Hilário, se fez ouvir:
-Ele esta dizendo a verdade! Estou com o óculos que ele perdeu na onda aqui na minha mão – falou Hilária caminhando em direção à multidão.
Um “oh” ecoou pelo aglomerado de banhistas que assistiam à cena, chegando Hilária junto a Hilário entregando-lhe o óculos.
O casal ficou sem jeito e surpreso pela coincidência dos maiôs das duas mulheres. Desculparam-se com Hilário e Hilária e a intriga foi resolvida. Os que presenciaram os acontecimentos voltaram aos seus lugares e tudo se acalmou.
Hilário estava mesmo sentindo algo muitíssimo diferente por Hilária.