O outro suicídio
Janeiro de 1982
Sessenta e sete anos ....
Ele atirou na própria cabeça.
Naquele exato momento, em outra cidade a moça acorda assustada.
Sente um calafrio pelo corpo...uma estranha sensação de que alguma coisa não estava bem..
Levantou, olhou no relógio da sala e os ponteiros marcaram 5 horas e 23 minutos...era um velho relógio de cuco, uma raridade....
Tomou um copo de água e voltou a dormir.
Afinal tinha que trabalhar cedinho.
As manhãs eram sempre corridas, acordar as crianças, tomar café, ajeitar as coisas levar as crianças na creche e correr para o ponto de ônibus, até o terminal central.
Os ônibus sempre cheio, apertados.
Na loja de eletrônicos a sua espera existiam uns trocentos aparelhos para serem consertados.
Um cafezinho pra animar e bora lá ajeitar a bancada, separar as ordens de serviço e começar a trabalhar.
Era tudo muito corrido , não dava tempo nem de pensar nas coisas do dia a dia. Eram contas intermináveis pra pagar , 4 filhos pequenos, sozinha.
Ela mudara há um ano atrás, não tinha muitos amigos e os parentes moravam longe...
Lá pelas 9 da manhã a secretária da recepção avisa que tem uma ligação pra moça.
Uma voz conhecida, era a mãe que morava em Santos.
A notícia era muito parecida com a notícia de anos atrás.
Seu pai de suicidou!?!!!
Ficou ali parada sem entender absolutamente nada...
Porque?
Será que isso tem a ver com destino?
Que sina é essa? Há anos atrás seu irmão, agora seu pai ...
Isso não estava acontecendo, alguma coisa estava errada ....
Pensou: Vou dormir de novo e acordar e tudo isso não estará acontecendo..
Mas era real. O mesmo hospital, o mesmo velório o mesmo cemitério...como não fazer uma volta ao passado ?
Era surreal....a morte a espreita fazia sua alegoria fatal....
As horas seguintes ela não conseguia entender....
Ele estava doente, porém nunca poderia imaginar que faria tal coisa...
Era a vida colocando ela a prova outra vez....mais uma vez vieram outros porquês...ela lembrava do pai bem branquinho, porte alto, de olhos verdes, cabelos loiros, de voz macia e semblante sereno.
Era meio taciturno, quieto, trabalhara a vida toda de barbeiro.
E agora esse fim??
Triste fim ...
Um dia ela iria entender....pelo menos tentaria entender....porque as pessoas tiram as próprias vidas....
Nada é fácil de entender.
Nada é fácil de entender...
Chove lá fora, dia frio e agora a moça chora baixinho. Como seguir em frente?
E mais uma vez a pergunta:
PORQUE? Porque?
Porque?