O xixi adiou o casamento
José Kimathi, neto de alemães, residente na Serra Gaúcha, 68 anos de idade, viúvo, fora sempre apaixonado por morenas, mas não dispensa uma loira, bem gelada. Deveras entusiasmado por tudo que ocorre ao seu derredor, não dispensa o apoio da velha e querida companheira nas noites quente do Sul, que, com a sua suavidade, traz-lhe momentos de êxtase, fazendo o seu estado de alma elevar-se, desprender-se das coisas materiais, pelo enlevo e contemplação interior.
Naquele dia dar-se-ia o seu casamento, com a bela e jovem Giuseppina, 30 anos de idade, neta de italianos, também residente na Serra Gaúcha. Uma igreja com fachada toda em pedra, a matriz de São Pedro Apóstolo, de beleza sacra, à sua frente descortina-se uma linda praça e uma fonte, denominada fonte do amor eterno, onde os apaixonados penduram cadeados com inscrição dos nomes dos enamorados, com juras de amor eterno.
Marcado para às 17 horas, a igrejinha já estava lotada desde às 16h30. Kimathi, muito conhecido na cidade, pelas suas bebedeiras homéricas, e suas graças sem graça, o homem, faltando quinze minutos para o início da cerimônia religiosa ainda não havia dado o ar da graça. Todos cochichavam, querendo saber o motivo dessa demora, já que o costume de assumir essa atitude cabia única e exclusivamente à mulher.
A demora de Kimathi começou a inquietar sua noiva e familiares. Diziam os parentes da noiva, a italiana invocada, que ele não prestava, que uma moça tão linda não deveria se meter com aquele grosso, homem sem caráter. Quem já viu uma moça tão linda se encantar por uma praga tão feia como esse sujeito.
Por seu lado, a família do alemão, não se conformava com a atitude do parente, tinha que respeitar a moça e sua família. Isso nunca acontecera antes nesta cidade. Decepcionados, todos saíram ao encontro do noivo sumido. Ninguém o encontrava, as conjecturas tiveram início. Será que ele fugira? Ele terá outra mulher? Embora o homem seja bastante conhecido, poucos sabiam de sua história de vida. Não adiantava procurar mais, dizia uns, se fugira deve estar longe. Coitada da moça, diziam outros. A verdade, estava bem perto de todos, só procurado no lugar errado.
O descendente de alemão sofria de incontinência urinária e quase ninguém sabia por aquelas bandas. Pescador artesanal, o “chucrute” vivia quase todos os dias a pescar, explorava os rios da região de Gramado, fornecendo frutos do mar para os locais e visitantes. O problema era que ele, quando estava fora d’água, usava absorvente especial, para reter o xixi, que fazia constantemente. Esquecido do horário do casamento, ficou bebendo a manhã e início da tarde, era sábado. Alertado da demora, cheio de cerveja, o noivo saiu em disparada rumo à igreja. Só que esquecera do absorvente contra a sua incontinência.
Passou em casa, pegou os sapatos e a roupa com a qual iria desposar a Giuseppina e foi direto para a igreja, pensando se trocar na sacristia, dependência da igreja onde se guardam os paramentos sacerdotais, os utensílios do culto e onde se vestem os sacerdotes. Na ocasião o padre, impaciente, andava de um lado para o outro, parava à porta que dava para o centro da nave, olhava, balançava a cabeça, voltando a dar passos curtos, na expectativa de ver entrar o pretendente daquela tarde já que a noiva lá se encontrava.
Cansado, entrou no chuveiro para um banho rápido, percebendo que estava sem cueca e sem o absorvente. Já não havia mais tempo para nada, enxugou-se, vestiu o terno branco, primeiro as calças, depois as meias, os sapatos e, por fim, o paletó. Tudo nos “conformes”, mas a lembrança da falta do absorvente causou um estrago, olhou para baixo percebendo que a calça estava toda molhada. Um odor desagradável se espalhou pelo recinto da sacristia, vindo o padre verificar de onde vinha aquele ar poluído, encontrando o pretendente da mão da italiana, de pernas abertas e olhando para o que acabara de acontecer com ele.
O padre não teve outro jeito senão adiar o casamento, ficando de conversar com os parentes e os noivos, para a marcar outra data para as núpcias. E assim foi feito.
OBS: deixamos de publicar o nosso conto na terça-feira passada, dia 30 de agosto, por motivo de saúde.