D. Luzia pé-na-cova...

D Luzia pé na cova...

E seu pomar intocável...

(conto)

Em uma chácara, nos arredores da capital de S Paulo, nos anos 80, morava D Luzia. Ela vivia na companhia de alguns gatos, 03 cachorros, e galinhas, patos, galinha D’angola e gansos. Uma senhora de 67 anos. Em sua chácara havia um pomar com muitas espécies de frutas: Pitanga, goiaba, caju, manga, mamão, acerola, fruta do conde, amora, limão, laranja, jabuticaba e etc. Dona Luzia pé na cova. Era assim que os meninos da rua a chamavam. Esse apelido era uma pirraça porque ela era uma mulher muito brava.

Pé na cova, exatamente porque era uma mulher já idosa, doente e muito ranzinza... Mal humorada, com cara de poucos amigos, e muito carrancuda, - ela morava sozinha. Às vezes, por lá apareciam pessoas pedindo algumas ervas para fazer chá, ou remédio caseiro, ela os encarava, e escorraçava, alegando não ter nada para doar a ninguém. E exclamava: - Porque não vinham comprar? Mas sempre pedir!... D Luzia era mesmo abusada, resmungona, e vivia só a falar mal dos vizinhos. Para ela ninguém prestava. Estava sempre a queixar-se deles e de sua própria saúde.

Sempre que era época de frutas, seu pomar exalava o cheiro bom das frutas maduras. Então atraia a garotada da região. Quando as crianças da vizinhança vinham pedir uma fruta, ela ficava muito brava, xingava-os, praguejava e... obrigava eles catar frutas do chão, já apodrecendo. Os meninos pediam, pediam, - no chão, as frutas todas apodrecendo. mas ela sempre argumentava que havia tido muito trabalho para zelar do pomar e o deixar bem limpo. Portanto não seria justo que quem não teve trabalho viesse só colher as suas frutas.

Apesar da insistência daquelas crianças e até mesmo de pessoas adultas que se sentiam atraídas pelas frutas D Luzia não cedia! Seu coração era mesmo de “pedra”. O tempo foi passando,... já passados quase 20 anos D Luzia, agora com 86 anos, caminha com muita dificuldade, apoiada em uma bengala. A artrose, o reumatismo, osteoporose e problemas de coluna e na visão, a estão vencendo.

Seu belo pomar, agora tomado pelo matagal, porém as frutas continuam apetitosas, despertando a atenção das pessoas, principalmente da garotada, que agora já é outra geração, pois os meninos daquela época, agora, já adultos, a maioria casados, com filhos muitos moram ali por perto. Muitos mudaram dali, outros agora trabalhando e cuidando cada um da sua vida. Porém tudo continua igual. Quando alguém, atraído pelas frutas maduras vem lhe pedir algumas, ela tem sempre a mesma resposta: “- Não é justo dar minhas frutas para quem não teve trabalho para as cultivar!”

D Luzia pé na cova é o assunto de toda aquela vizinhança ali. Que pena que Dona Luzia não aprendeu a doar um pouquinho de si para afagar, ou (adoçar) o coração das pessoas, nem mesmo daquelas crianças, que só queriam saborear uma manga madura e docinha, uma tangerina, uma goiaba ou um caju. Todos por ali comentam... e, maldosamente se perguntam será que ela quando morrer vai levar seu pomar -, suas frutas, no caixão? Ou será que vai ficar como fantasma a vigiar suas frutas para ninguém mexer?....

Mas D Luzia pé na cova não está sozinha nessa não! Existem muitas D Luzias (ou Luzios) espalhada (os) por esse mundo a fora. Aqui mesmo nas proximidades de onde eu moro existe um caso parecido...

Texto registrado no Escritório de Direitos Autorais em 17/10/2016, e protegido pela lei nº 9.610/1998. - Arnaldo Leodegário Pereira.

Arnaldo Leodegário
Enviado por Arnaldo Leodegário em 31/08/2022
Código do texto: T7595339
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.