Uma perda sem adeus
Tentei colocar no papel, digitar na tela uma perda que não foi só minha. Como eu, muitas outras pessoas perderam parentes, amigos, colegas. Corações feridos dentro do peito. Feridas que não deixam de sangrar.
Num momento estávamos reunidos. Toda família rindo, recontando histórias, repetindo pratos saborosos, o cheiro do churrasco no ar, as crianças correndo de um lado para outro. Os cães latindo. O sol começava a se inclinar. A temperatura já mudava.Ela estava como sempre fazendo todo mundo sorrir. Uns procuravam as roupas de frio. Outros fugiam do banho. Os prevenidos já estavam prontos para pegar a estrada.
No final da tarde nos abraçamos e sinalizamos um aceno, olhos lacrimejando, e um sorriso cheio de saudade.
Era um domingo. O último encontro com a rosa do meu jardim, mas ninguém sabia.
Na segunda, um telefonema dizia que ela estava internada. Na terça, numa chamada de vídeo falei com minha rosa. Pedi que não falasse para poupar as forças. Já estava sem fôlego. Nos olhos vi que estava com medo. Disse-lhe que ligasse os pensamentos com Deus e, que nós ficaríamos aqui intercedendo e acreditando que tudo ficaria bem.
Não houve adeus. Não houve visita. Não houve velório. Não houve tempo para digerir aquela ruptura.
A última lembrança que tenho é eu sentada em um banco de um cemitério. Os coveiros enterrando o caixão há uma distância 'segura'. Não havia mais lágrimas. Não havia palavra. Descobri que silêncio também tem voz. Dentro de mim uma frase ressoava: " Não pude dizer adeus, nem dizer quanto perdi ao perder."
Ione Sak
23/08/22