UM SONHO... DE MULHER !

Certamente, aquilo era um sonho... uma jovem tão bonita não se via na realidade, só podia ser um sonho. Estava sentado na varanda de sua casa -- da casa dele, explica-se -- quando ela chegou, a tez morena como café com leite, uma raridade naquele Sul-Maravilha de gente branca, cor desmaiada, meio doentia. Aquela cor marrom-bombom era quase um insulto, um tapa na cara, irresistível aos olhos masculinos, todos êles. E ela sabia disso, ah, como sabia...

-- "Namorada do teu irmão"..., apresentou-se, "meu nome é Lucíola" ! e sentou displicente na cerquinha, pernas cruzadas, nesga de coxa sensual aparecendo, devastadora. E os olhos... que olhos ! Mergulhava-se neles numa queda infinita, difícil de se voltar, as sobrancelhas grossas acentuando a intensidade das pupilas negras, "a fuzilar" qualquer mortal. Era paixão à primeira vista ainda que, "no consciente", se resistisse ! Ficou a imaginar o que sentiam outras mulheres, suas amigas, por exemplo. Será que percebiam aquele fogo nos olhos, as faíscas lançadas contra o interlocutor ?!

Uns 15, 16 anos e tocando violão..., era demais numa pessoa só ! Ela cantou: -- "Que beijinho doce / que êle tem, / depois que beijei êle / nunca mais amei ninguém" ! Que voz, santo Deus, que voz ! Entendeu finalmente porque Ulisses não conseguiu resistir ao (en)canto das sereias gregas. Uma voz doce de embalar sonos e sonhos, de nos levar a cometer qualquer desatino... a voz e a música eram um e igual convite e os olhos gritavam... "você me quer ?!" Nunca a vira antes, mas a desejava como se fosse dele desde séculos... esticou o braço, poz a mão nas cordas interrompendo a canção. A voz saiu rouca, insegura, medrosa, não queria ofendê-la, muito menos perdê-la:

-- "O que significa isso ?! Você já me conhecia, por acaso" ?

A morena jogou os cabelos lisos para trás como numa chicotada, os fios brilhantes aninharam-se todos num dos lados do esguio pescoço. Desejou agarrá-lo com as mãos e beijá-la, á força. Não, não era mulher submissa, ela ficava no comando... a jovem percebeu a extensão da pergunta.

-- "Teu irmão gêmeo me falou de você... nunca vim aqui" !

-- "Então, você quer os dois ?! Isso não é comum, veja o que diz a Bíblia, querida" 1

-- "A Bíblia, que-ri-do, foi escrita por homens ! Jamais nos perguntaram o que desejamos, sonhamos, pretendemos ser. Os homens podia ter várias mulheres... e nós" ?!

-- 'Entre, vamos conversar lá dentro" !

Largou o violão e entrou na frente dele, olhar de vencedora... como peixe fisgado, êle ainda se debatia entre o Bem e o que seria o Mal. Venceu o segundo ! Mal a porta se fechou atrás dele agarrou-a por trás, virou-a com o braço direito e enlaçou-a com energia, não era hora para hesitações. Resfolegavam feito equinos no cio, olhos desafiadores, desejos no auge. Um longo beijo o fez mergulhar no espaço sideral, entre cometas e estrelas. Teria ouvido batidas na porta ? Abriu os olhos a custo, os dela continuavam fechados... infelizmente, batiam na porta com insistência. Só podia ser seu irmão !

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Realmente, batiam na porta... olhou o relóginho na cômoda: eram 6h30, manhã de domingo, tinha marcado futebol com os amigos e "perdera a hora". Ainda bem que tudo fôra só UM SONHO, uma "guria" daquelas era um furacão na vida de qualquer um. Mas, que MULHER !

"NATO" AZEVEDO (em 22/ago 2022, 6hs)

OBS: a moça do conto parecia com a "star" CLÉO PIRES, bem jovem.