Adivinha... (BVIW)

 

Dona Giselda era uma mulher simples, porém de uma elegância singular. Nascida na zona rural de uma cidade do interior nordestino, perdeu o noivo por assassinato, e demorou a encontrar outro rapaz para namorar e se casar. Depois do acontecido, em rodas de conversas, dizia: quando eu me casar o marido vai ficar viúvo. Suas irmãs e primas riam dela e diziam que isso era trauma de ter ficado viúva ainda solteira.

Passados alguns anos ela se casou com seu José e, com o tempo, passou a falar, para o marido, que tinha pressentimentos, e sinalizava-os, a cada novo negócio que ele ia fazer. E acertava, mesmo que ele não creditasse, a ela, o ocorrido.

Quando compraram a primeira casa, dona Giselda dizia que não iam ficar muito tempo ali, pois a casa não tinha bons fluidos. Até que compraram outra e, mesmo assim, ela dizia que queria uma casa que ficasse numa esquina, com frente para a nascente, porque era a que daria sorte. E seu José comprou, atendendo ao pedido da esposa, a terceira casa. Lá foram felizes. No entanto, ela continuava tendo seus presságios. Em uma de suas viagens, seu José encontrou uma cartomante que traçou algumas linhas sobre o seu destino, e entre os acontecimentos, dizia que ele ficaria viúvo e se casaria com uma mulher mais nova que ele. Um belo dia, dona Giselda achou esses escritos e ficou muito brava, inclusive, por confirmar a sua premonição sobre a viuvez do marido e, também, por despertar-lhe ciúme, já que ele ia, suposta (e futuramente) se casar com uma moça jovem. Vez por outra esse assunto gerava discursões entre o casal.

Dona Giselda, mesmo não tendo bola de cristal, costumava prever fenômenos que terminavam por acontecer, chegando a antever a brevidade de sua vida, com a tristeza de não ver o aniversário de um ano de sua primeira neta, já que a viu nascer e de ter cuidado dela até os seus 11 meses de idade.

 

Iêda Chaves Freitas

23.08.2022

 

Tema da semana: Bola de Cristal (Conto)