Conto das terças-feiras – Burlando aparato de segurança

Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE – 16 de agosto 2022

Carlos e Antônio Barbosa são amigos desde criança, hoje, adultos bem resolvidos. O primeiro, funcionário público aposentado e executando outras atividades no ambiente privado. Antônio, gerente de um grande banco, homem muito ocupado, constantemente acercado por pessoas interessadas em conseguir empréstimos, muitas vezes negados na primeira tentativa. Assim, a seleção de entrada ao seu gabinete de trabalho sempre fora e é severa até hoje, com triagem rigorosamente cumprida.

Certo dia, Carlos, ao visitar o seu amigo de infância, foi barrado. Tentando convencer a quem o barrou, afirmou que Antônio era seu irmão. Não acreditando, o funcionário telefonou para a secretária do gerente, relatando o ocorrido. Imediatamente, após consultar o chefe, ela autorizou a entrada do senhor Carlos. No retorno deste, ao passar pela área de controle, foi questionado sobre a veracidade da irmandade entre ambos:

— Senhor Carlos, o senhor é mesmo irmão do Dr. Antônio Barbosa?

— Vou contar o que aconteceu: certo dia, meu pai chegou em casa com uma criança no colo, dizendo que a achara na calçada de uma loja, logo pela manhã.

— E sua mãe aceitou? – perguntou o segurança.

— Ela estava grávida de seis meses, não gostou muito, mas aceitou esse ser humano, um menininho, que, possivelmente, não teria futuro nenhum.

— E seus pais o criaram?

— Sim, mas sem adotá-lo, para não terem problemas posteriormente - frisou Carlos.

— Por isso que Dr. Barbosa não tem o seu sobrenome? – indagou o zeloso funcionário, ávido em conhecer a história do patrão.

Percebendo que criara uma história desconcertante, difícil de desfazer, agora que teria acesso livre ao amigo Barbosa, não titubeou e deu continuidade:

— Na escolha do seu nome, não queriam Aparecido, ou coisa parecida que denotasse a sua condição de abandonado e achado por nossa família.

— Por que então Barbosa, já que vocês não sabiam quem eram os pais dele?

— Na ocasião morávamos na Avenida Antônio Sales com Rui Barbosa, meus pais tinham que dar um nome ao menininho, e não sabiam qual. Foi então lembrado os dois nomes das ruas que passavam em frente à nossa casa, uma casa de esquina, daí surgiu o nome de seu atual chefe. Nossa diferença de idade é de apenas três meses, somos quase gêmeos, mas não somos gêmeos, que fique bem claro!

— Mas vocês se tratam como irmãos, não é mesmo? - perguntou o funcionário investigador.

— Claro, respondeu, confiante Carlos, não deixando que pairasse dúvida na cabeça daquele cuidadoso auxiliar do ocupado e competente gerente.

Nos dias que se sucederam o Dr, Carlos, assim tratado pelos funcionários do banco, teve acesso imediato ao gabinete do gerente, que sempre ficara intrigado como o velho amigo, para saber como ele convencera à sua segurança, para ser tratado assim.

Por seu lado, Carlos, sempre que havia necessidade de tratar com seu amigo sobre assuntos que diziam respeito aos dois, sentia-se constrangido em representar o papel de irmão e furar a fila dos interessados a falar com o gerente. Mesmo assim, não perdia a pose, ao adentrar a caverna do dragão, como ele se referia aquele local.

O certo é que poucas vezes retornava para falar com o amigo. Quando aparecia era saudado efusivamente, pois, simpático, ganhara a estima dos que ali trabalhavam. Algumas vezes, por gratidão, levara chocolates para os que ali trabalhavam e facilitavam suas entradas.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 16/08/2022
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