Quase morri num acidente de avião.
- Quase, Pedrão! Quase!
- Quase o que, Zé?! Quase o quê?!
- Quase morri, hoje cedo, Pedrão! Quase!
- Quê!? O que você está dizendo?! Não brinca, não, Zé?! O que houve?
- Eu ouço o que você me diz...
- Não perguntei se você ouve, se me ouve com os ouvidos; perguntei o que houve, houve com agá, o que aconteceu. Que história... Você quase morreu?! Você quase morreu?! O que houve?!
- É verdade, Pedrão. Eu quase morri. Felizmente, fiquei no quase. Hoje cedo, quase morri num acidente de avião.
- Quê?! Não brinca! De avião?! Não brinca comigo, não, Zé. Você estava em um avião?
- Não. Não. Não. Um avião, caindo, quase me atingiu ao espatifar-se no chão. Foi-se o filho do Santos Dumont.
- Conte-me o que aconteceu, Zé, e desde o início.
- Você viu, hoje cedo, a notícia do avião que caiu em B*?
- Não. Não vi. Mas eu soube do ocorrido. Contou-me o fato, na fábrica, o Paulinho Bolinha. Foi um bimotor que caiu, não foi? à margem da marginal C*. Você estava no avião, Zé? Estava?
- Não. Eu não estava no avião. No momento em que o avião espatifou-se no chão, eu estava, num carro, em E*, indo para J*.
- Quê?! Zé, o avião caiu em B*, e B* está a vinte... vinte, não... vinte e cinco; talvez trinta. Está B* a trinta quilômetros de E*!
- Eu sei, Pedrão. Eu sei. Vinte quilômetros. Vinte e cinco quilômetros. Que sejam trinta. Trinta quilômetros, Pedrão, na escala cósmica é nada. Passou-me o avião raspando-me a cabeça. Escapei da morte certa, e por um triz.