Cristian

- E quem é essa na foto com você?

- Essa é Luciana. Uma velha amiga. Eu lembro perfeitamente quando eu a conheci. Foi no meu primeiro dia de trabalho, em julho de 2012 e, por sorte, tinha festa, com música no salão de conventos da empresa. Ao entrar, eu a vi de pé, brincando na dança das cadeiras, mas o que me chamou a atenção foram o seu sorriso e o seu jeito leve de dançar.

Olhei rapidamente para os lados, em busca de um lugar para sentar. Fui ao primeiro banco desocupado no salão. Tentando ser discreto, olhei ao redor para ver se conhecia alguém. Ninguém. Então, em minha direção, um novo colega de trabalho veio falar comigo para dar as boas-vindas e me dizer um pouco do funcionamento da empresa, do ambiente e das pessoas. Disse-me mais algumas coisas que, no momento, eu não consegui entender, pois minha atenção estava sendo dada a ela. Mesmo que ele estivesse sendo gentil comigo, eu não pude parar de notá-la. Ele, ao perceber minhas vazias respostas “aham” “sei”, “pois é”, disse-me: Aquela é a Luciana. Ela trabalha no mesmo departamento que você. Vocês são da mesma área e vão trabalhar juntos. Eu tentei não demonstrar a minha felicidade em saber disso e respondi apenas: “Legal! Legal! Ela parece legal, né?!”.

No término da festa, eu a vi saindo às pressas, parecendo preocupada, sem tempo para conversar com alguém. Do novo trabalho até chegar a minha casa, eu não consegui tirar a Luciana da minha cabeça. Aquela boca vermelha carnuda, aqueles olhos castanhos penetrantes e aquele sorriso! Por um momento, eu esqueci que tinha namorada que me acordou do sonho perguntando como havia sido o primeiro dia de trabalho.

Na manhã seguinte, sete minutos depois da minha chegada, ela apareceu na sala onde havia outros colegas. Eu estava sentado no canto da mesa e de canto de olho, fiquei a observando, tentando ser discreto. Ela cumprimentou todos, falou com uma amiga mais próxima por alguns minutos a sós, parecia séria, e, logo em seguida, vem até a mim e disse:

- Oi! Como vai? Você é o colega novo, Cristian né, que vai trabalhar na mesma seção que a minha? Legal! Bem-vindo, meu nome é Luciana! Pode me chamar de Lú! Qualquer dúvida você me chama, tá bem?

- Obrigado! Sim, ao que parece, nós vamos trabalhar juntos, legal.

Respondi, sem conter um sorriso e um pouco envergonhado ainda. Três horas depois, estávamos fazendo um intervalo no mesmo lugar. Puxei conversa dizendo que havia me formado no ano de 2011. Depois de proferir essas palavras, fiquei pensando no meu impulso desenfreado em querer conversar com ela e que poderia ter ficado quieto. Mas, as palavras saíram e ela me olhou por um instante e disse que também tinha se formado no mesmo ano. Começamos a falar de alguns professores que conhecíamos e que tínhamos em comum, como também alguns colegas da faculdade. No fim, o intervalo de 10 minutos foi prolongado para 27. Já era indício que tínhamos muito o que falar um para o outro.

Como não podíamos ficar tanto tempo assim no intervalo, trocamos o número do telefone e, assim, nossas conversas se prolongaram. Dos 27 minutos iniciais, ficávamos 3 horas e até mais trocando mensagens por dia. Mensagens sobre o trabalho somente. Pelo menos era isso que eu falava para minha até então namorada professora e, da mesma forma, Luciana falava para o seu até então namorado policial.

E, de fato, era. Digamos. Claro que em uma troca de dicas do trabalho e de como fazer tal atividade, rolava umas indiretas, mas não maliciosas. Fazia-nos sorrir. Mas era um sorriso diferente. Era mais novo, mais leve, mais descontraído.

Com o tempo, percebíamos que nós tínhamos muito em comum. Nossos sonhos, nossos medos e nossos modos de ver o mundo eram similares. O mesmo mundo em que tínhamos namorados. Ou melhor dizendo, quando tínhamos namorados. Foi preciso 7 meses para perceber que não estávamos felizes com eles. Com isso, terminamos. Eu, em junho. Ela, em julho. E te falo que foram dois términos dolorosos, como todos os são, mas necessários.

E as conversas continuaram entre a Luciana e mim. Nós nos ajudávamos quando precisávamos, e, para falar a verdade, foram muitas vezes, pois houve momentos que não estávamos bem, nós nos sentíamos desanimados, com incertezas. Foi principalmente nesses momentos que percebemos que éramos, acima de tudo, grandes amigos, pois foi esse tipo de relação que foi construído entre nós.

Durante 4 anos, tivemos uma relação inigualável. Mesmo com a minha mudança de cidade, dois anos depois de nos conhecermos, ainda ficávamos conversando, por mensagem ou ligação, ou nos vendo quando eu estava a visitando. Continuávamos a conversa como fora desde o início e posso te dizer com certeza que nunca encontrei outra pessoa assim. Só que o nosso tipo de relação estava para mudar no dia em que ela me enviou uma foto com a seguinte frase, escrita no muro de uma calçada: “Ame a pessoa que te viu / quando você se sentia invisível”, e tudo que significa par...

- Espera! Por que você disse 4 anos?

- ... para nós. Porque essa foto que você segura foi tirada no dia 26 de julho de 2016. Tínhamos nos despedido do bar, onde também estavam nossos amigos, e até tínhamos pensado em ir embora juntos, para combinar quando iríamos falar para todos sobre a nossa novidade. Mas como nosso amigo Bob estava bêbado, preferi levá-lo para casa, pois no dia seguinte, iríamos almoçar todos juntos novamente. Quando ela chegou em casa, me ligou, como era costume, para dizer que estava tudo bem. Ao respondê-la e dizer o mesmo, duas vozes e um som me interromperam: a voz do ex-namorado, o grito dela e quatro disparos. Depois disso, um silêncio estarrecedor, que a partir dali, fez o tempo parar e os dias não fazerem mais sentido para mim.

- Então, Cristian, é por isso que você está aqui?

- Sim, doutor, essa é a razão. O que faço agora para seguir adiante com a vida?

- Nada, Cristian. Não há nada a fazer, a não ser seguir adiante.