O Trabalho Envelhece
- Eu nunca trabalhei. E jamais irei trabalhar. Quer você me chamar de vagabundo, chame. Não me incomodo. O trabalho envelhece. Veja o meu pai...
- O seu pai é um homem trabalhador. Conheço-o há quarenta anos. E ele trabalha desde os doze. Por ele você não puxou.
- Meu pai é trabalhador?! É. Reconheço. Sou o primeiro a reconhecer a dedicação dele ao trabalho. Veja você: meu pai começou a trabalhar, aos doze anos, no bazar do doutor Custódio; depois, até se aposentar, há seis meses, à idade de sessenta e dois anos, trabalhou na firma do Mascarenhas, e na do Engenheiro Enéias; e de pedreiro, e de marceneiro, e de mecânico de automóveis, e de engraxate, e de pizzaiolo. Está, hoje, envelhecido em cinquenta anos, com sessenta e dois anos. Após cinquenta anos de trabalho, veja bem, ele envelheceu cinquenta anos. O trabalho o envelheceu. E você não pode se opor à tal evidência.
- Você só quer saber de sombra e água fresca, mesmo. Que va...
- Quer você me chamar de vagabundo?! Chame. Não ligo. 'to nem aí! Que o trabalho envelhece, envelhece. Por A mais B, e tirando a prova dos nove, provei correta a minha teoria. E nem você, e nem ninguém, pode refutá-la.