No vagão do metrô

Estava eu, ontem pela manhã, no vagão do metrô, observando o grupo do qual faço parte (o povo), analisando cada detalhe que nos torna tão diferentes e ao mesmo tempo integrantes da mesma massa. Notei quando uma Sra. entrou na próxima estação, ela carregava uma mala e uma bolsa de viagem, pensei: provavelmente está a caminho do aeroporto, que era a última estação da linha. Vai viajar... Que saudade de viajar!

De repente, essa Sra. viajante fez um grande esforço para pegar um guardanapo de papel que estava na sua mala, comecei a ficar curiosa com todo aquele movimento que atraía a minha atenção. Continuei olhando-a discretamente,

até que ela estendeu a mão na direção de outra Sra. que estava sentada do outro lado do vagão, ofereceu-lhe o guardanapo para secar as lágrimas incessantes que inundavam seu rosto, ali, bem na frente de todos.

Então, passei a observar a outra Sra., que com a cabeça baixa não parava de chorar. Meu coração entristeceu-se por um momento, tive vontade de me aproximar e dizer-lhe uma palavra de conforto, seja lá pelo que havia lhe ocorrido.

Também tive vontade de me aproximar da Sra. viajante, e dizer o quão nobre foi o seu gesto diante de uma estranha que acabara de cruzar num vagão de metrô, e que talvez jamais a reencontrasse.

Mas infelizmente só fiquei na vontade, chegou a estação do meu destino e eu desci desolada, como se deixasse um resíduo de palavras não ditas naquele vagão. Eu poderia ter expressado meus sentimentos para a Sra. viajante ou para a Sra. das lágrimas, ou até para as duas. Ainda que qualquer palavra minha fosse irrelevante para elas, seria significativo para mim.

Hoje, estou a caminho do metrô, mas estou atrasada e perderei aquele vagão. Amanhã eu pegarei o metrô novamente.