PARTE AUTO-BIOGRÁFICA

Nasci assim:

Menino

(porque não teria outro jeito.

Porque ninguém nasce adulto,

apesar de alguns adultos que parecem nunca terem sido crianças)

Cara de bobo pra ser saco de pancada

Na escola

No bairro 

De perfeito eu tinha meu vitimismo e minha observação do mundo

Lia o que achava pela frente 

De livros até uma revista rasgada achada aos pedaços em lata de lixo

Do mundo em que eu vivia

Procurei aprender desde cedo a ter juízo 

Pelos exemplos eu via a anarquia acontecer

Mas também cedo receber o seu castigo

Deixei de cheirar loló

Maconha

E o que me ofereceram

Estas ondas não eram pra mim

Preferia afundar a cara nos livros

Isso sim era viagem legal

Maurice Druon e seu Dedo Verde

Li mais de dez vezes

E o leria mais, se não tivesse perdido o livro

Não sei onde 

Nem sei como

Li Coração Verde também 

Não esqueço da menina catando e plantando sementes

Achando que iam nascer pássaros e coelhinhos

Dona Nininha, Bibliotecária do São Sebastião, virou minha cúmplice 

Tão cansada ficava de preencher fichas e mais fichas de empréstimos 

A ponto de deixar a chave da biblioteca por minha conta, depois de certo tempo

Li vinte e três livros numa semana em que praticamente não conversei nem com minha mãe 

O que me rendeu uma visita ao psicólogo 

--- " Esse menino tá doido, doutora, nem me atende mais, só lendo!"

Quase que fui mandado pro hospício!!!

Brincadeira...

Rindo por dentro ao lembrar disso

Mas passava meu tempo lendo, as vezes vários livros ao mesmo tempo

Talvez me transformasse num vilão: Literactus, o devorador de livros!

Mas não 

Esquece...

Isso não aconteceu

O tempo passou E de vez em quando esmoreço na leitura

As vezes eu fico com a consciência pesada por não ler

Outras vezes o vício psico-literário volta à tona e fico obcecado em ler

Comprei três livros em trinta dias

A leitura não durou quinze dias 

Luto contra mim mesmo pra não ficar lendo obras virtuais mas acabo sucumbindo à tela do celular e baixo algumas coisas disponíveis na rede

Mas prefiro folhear como faziam os antigos gregos, se é que você me entende.

Os tempos mudaram

Assim vou absorvendo feito esponja e ao mesmo tempo soltando sementes feito dente-de-leão, aos poucos soprando junto com o vento

Em pedaços vou me desfazendo e recolhendo poesia espalhada 

Hoje minha esposa leu: "hecatombe"

---- "De onde você tira tanta palavra difícil?"

Respondi pra ela que todo bom escritor, primeiramente é um bom leitor

Preciso voltar a infância 

Preciso ler mais

Preciso ser quem eu era e quebrar meus próprios recordes

Preciso ser um bom escritor

Mas acho que estou aprendendo cada dia mais.

15/07/2022

11:39hrs

Selton A Jhonn s
Enviado por Selton A Jhonn s em 27/07/2022
Código do texto: T7568718
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