O Jacaré Satisfeito

19.07.22

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Estática como uma pedra, estava uma cabeça retangular boiando na suja água daquele córrego lamacento. Espreitava uma garça azul que ciscava na margem. Seus olhos acompanhavam-na fixamente. Um jacaré!

Bicando o lodoso líquido, seguia a procura de alimento, parecendo não notar que aquela pedra esperava para almoçá-la. Andava balançando a cabeça olhando ora para o chão, ora para a água. Em dado momento, parou por alguns segundos avaliando aquele objeto estático flutuante a sua frente. Ele, inerte como uma rocha.

Estava muito perto do estranho afloramento na água parada do riacho. O perigo iminente rondava aquela desavisada ave. Incrivelmente, seu instinto não a alertava de ser abocanhada a qualquer momento. O cheiro de morte pairava no ar e o seu desfecho logo aconteceria.

Encarava curiosa o seu possível algoz, não notando que algo não estava certo com aquela estranha pedra no riozinho.

Mantinha-se impassível, somente seus olhos permaneciam abertos e fixos nela. O momento chegava, ele sabia, faltavam milímetros para abocanhá-la de um só golpe. Era questão de segundos.

Uma nuvem encobriu momentaneamente o sol, voltando logo em seguida a iluminar o córrego, faiscando os olhos dele que piscaram instintivamente.

Ela percebeu então o que era aquilo ali ao seu lado. Elevou o pescoço e alçou voo de imediato, quase que batendo suas asas na cabeça do predador, que, talvez pela inesperada ação dela, permaneceu imóvel como uma pedra. Seu almoço se fora, ou satisfeito, o deixou ir.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 19/07/2022
Código do texto: T7563357
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