O Jacaré Satisfeito
19.07.22
434
Estática como uma pedra, estava uma cabeça retangular boiando na suja água daquele córrego lamacento. Espreitava uma garça azul que ciscava na margem. Seus olhos acompanhavam-na fixamente. Um jacaré!
Bicando o lodoso líquido, seguia a procura de alimento, parecendo não notar que aquela pedra esperava para almoçá-la. Andava balançando a cabeça olhando ora para o chão, ora para a água. Em dado momento, parou por alguns segundos avaliando aquele objeto estático flutuante a sua frente. Ele, inerte como uma rocha.
Estava muito perto do estranho afloramento na água parada do riacho. O perigo iminente rondava aquela desavisada ave. Incrivelmente, seu instinto não a alertava de ser abocanhada a qualquer momento. O cheiro de morte pairava no ar e o seu desfecho logo aconteceria.
Encarava curiosa o seu possível algoz, não notando que algo não estava certo com aquela estranha pedra no riozinho.
Mantinha-se impassível, somente seus olhos permaneciam abertos e fixos nela. O momento chegava, ele sabia, faltavam milímetros para abocanhá-la de um só golpe. Era questão de segundos.
Uma nuvem encobriu momentaneamente o sol, voltando logo em seguida a iluminar o córrego, faiscando os olhos dele que piscaram instintivamente.
Ela percebeu então o que era aquilo ali ao seu lado. Elevou o pescoço e alçou voo de imediato, quase que batendo suas asas na cabeça do predador, que, talvez pela inesperada ação dela, permaneceu imóvel como uma pedra. Seu almoço se fora, ou satisfeito, o deixou ir.