A Espera
09.07.22
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O dia invernal estava ensolarado, fazendo com que as pessoas caminhassem e sentassem para se aquecerem naquela praça. As crianças brincavam no parque infantil com seu alegre alarido, como passarinhos. Cães passeavam pelos gramados com seus donos - o borbulhar da vida acontecendo com suas imagens, sons e cheiros.
Sentado de ombros arcados e desalentados em um banco, um senhor alto, pois suas pernas eram longas e finas, de cabelos alvos e calvos e barba branca por fazer, aguardava. Usava moletom cinza claro. De cabeça abaixada, mantinha-se ensimesmado e calado. O sol não o acalentava. Não se importava com nada ao redor. Aguardava!
Uma mulher bem mais jovem, talvez sua filha, aproximou-se e disse que ia ao mercado ali próximo. Não levantou a cabeça, mas acenou-lhe afirmativamente. Continuou em seu devaneio.
Com as mãos finas e enrugadas, começou a esfregar as longas pernas em ato automático. Parecia lembrar-se de algo que o agradava. Um leve sorriso surgiu em seu rosto, mas logo se esvaiu no seu aguardar.
Levantou a cabeça e olhou para o céu. A claridade o incomodou, obrigando-o cerrar um pouco os olhos. Ficou assim por alguns segundos tentando ver o infinito do firmamento. Voltou ao seu desalento.
Um cachorro aproximou-se abanando amigavelmente o rabo e cheirou suas pernas. Estendeu a mão tremula para um afago no animal. Mas chamado pelo dono, o cão voltou. Recolheu-a e continuou insensível no seu imutável aguardar.
Sua filha, talvez, voltou com sacolas plásticas nas mãos. Olhou inexpressivo para ela que lhe ajudou a se levantar, e amparado, caminhou lentamente para o outro lado da praça. Seus passos eram pesados, cansados, e de ombros caídos uma triste figura, inerente a ele.
Sentado em banco próximo, presenciei a cena e refleti: ele sabe que sua espera logo terminará. Também saberei?