Ninguém quer saber de tristeza

Estava o Jorjão no bar do Alfredo, feliz da vida por ter ganhado uma boa bolada de bufufa de uma pessoa de posses na pequena cidade de Mata Cachorros, devido a uma empreitada de serviço de pedreiro, para levantar um grande galpão para armazenar grãos. Pois bem o homem tava todo prosa, com a maior pose de arigó, arrotando vantagem do enorme serviço que ele tinha feito.

E neste instante chega o seu amigo Zé Martins, com um aspecto triste e sombrio, e até cabisbaixo. E chorava mais do que um bezerro desmamado, e já chegou dizendo: pô Jorjão perdi o meu emprego, peguei minha mulher com outro e pra piorar ela foi embora com o danado do Ricardão e aínda teve a coragem de deixar os filhos para eu terminar de criar.

Ave Maria, cruz credo, respondeu o Jorjão: mas é muita desgraça por um corno só, homem! E o Zé Martins diz: pô meu, respeita a minha dor pelo menos. E o Jorjão diz: e você respeite a minha alegria, porque todo castigo pra corno é pouco! E deixa de frescura e toma logo uma dose comigo pra comemorar a minha melhor obra prima que eu já fiz!

E nesse interím o velho amigo ficou feliz com o sucesso profissional do Jorjão, apesar de vez em quando ficar meio triste e pensativo. Entrentanto o tal endinheirado amigo, percebendo a triste situação, disse logo assim pra animar o pobre amigo: oh! Homem, deixa de coisa, para de frescura! outro dia você chora as suas mágoas. Irei levar você agora mesmo na casa das primas, para você se animar um pouco, não se preocupe, é tudo por minha conta, cerveja e mulher para a gente virar a noite!

Pois bem, disse o amigo Jorjão: se é pra chorar, vamos chorar sorrindo, se é pra sofrer, vamos sofrer brincando e se é pra contar as nossas desgraças, vamos contar sendo felizes, porque amanhã é outro dia mano. E meio que desconfiado o Zé Martins, achou melhor tentar esquecer um pouco os seus problemas e procurou como no velho jargão popular: ir empurrando com a barriga. E assim ele pensou: hoje eu fico alegre e amanhã eu choro! e assim eles seguiram caminho rumo a boate das tais meninas perigosas da noite.

Déboro Melo
Enviado por Déboro Melo em 05/07/2022
Reeditado em 05/07/2022
Código do texto: T7553225
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