RIOS CAUDALOSOS

Durante a nossa existência vários rios caudalosos, singram por nossas vidas, e tais passagens às vezes não dependem totalmente, e nem diretamente do nosso querer, pode estar acima da nossa vontade, da nossa disposição, do nosso entendimento, do nosso alcance, contudo, o que importa é como lidamos com esses acontecimentos, e pode ser exercício de constância, e dignidade, até mesmo de bravura, visto que, o que vai importar mesmo é como administrar esses passadiços.

 

No entendimento de como vamos nadar nessas correntezas, às vezes em águas turvas das decepções, e cristalinas das esperanças, no vislumbre de como vamos nos orientar diante dessas ou daquelas dificuldades, essas ou aquelas incomplexidades, essas ou aquelas benemerências , sejam elas: os rios caudalosos das amizades, caudalosos dos amores, rios caudalosos da abundância, da tolerância, da intolerância, risos caudalosos dos preconceitos, da escassez, das virtudes, das insensatezes, dos sonhos, da pobreza, das desigualdades, deslealdades, rios caudalosos da riqueza, das desventuras, dos desencontros, rios caudalosos dos medos, das angústias, das adversidades, da perseverança, rios caudalosos da alegria, das indiferenças, rios caudalosos da tristeza, rios caudalosos das traições, das aflições, rios caudalosos de lágrimas, rios que tentam obnubilar nossa paz, rios caudalosos das solidões, rios caudalosos das esperanças, etc., etc., etc.

 

E saber lidar com essas situações serão exemplos, e são inerentes à capacidade que cada qual tem em saber conduzir as situações complexas, que se interpõe em nossas vidas, não as deixando avolumar, e virar bolas de neve.

 

Em tese, esses rios, uns são, mais extensos, mais torrenciais, e vão exigir, ou não, maior tirocínios, no que tange lidar com conjunturas emergenciais, e será mais ou menos impositivo, no entanto, será inexorável que todos sigam o seu curso com destreza, sem desistir ao longo do caminho, senão ficam reféns das suas próprias fraquezas, e os rótulos os denigrem nessas vitrines que é a vida.

 

Alguns abismos nas vidas das pessoas são da natureza da própria da vida, a vida não é mar de rosas, e esse ou aquele acontecimento infeliz faz parte da caminhada e do progresso, pois cada vez que caímos nos levantamos ainda mais fortes, e o bom, é que tudo é passageiro, nada é eterno, uma vez que o efêmero advém das singularidades, no escopo de entendermos que tudo na vida se renova daí à necessidade dos ciclos, das metamorfoses, dessas ilações, dos estágios nos casulos, visto que, progredimos, e todos nós estamos fadados ao crescimento, cada um no seu ritmo, mas, todavia infalivelmente ocorrerá indubitavelmente, e mais cedo ou mais tarde dar-se-á, e o surgimento do par de asas, deixando o período de aprendizados como lagartas no passado, visto que, esse invólucro já não nos serve mais de proteção.

 

O ser humano é objetivo em si mesmo, daí a busca incessante pela felicidade, daí a busca pelos prazeres, daí a busca por tudo o que possa dar sentido à sua vida, mesmo que às vezes essas escolhas os percam pelos caminhos dos desperdícios e das irreflexões.

 

A renovação em todos os sentidos revelam as possibilidades de estarmos revendo nossos conceitos, nossas ideias, nosso modo de pensar e agir, perante a vida, objetivando as mudanças plausíveis e necessárias, a possibilitar podermos enveredar em buscadas das pretensões, dos desejos, das ambições, possibilitando modificar de forma tangível, palpável, o ser humano que somos, cujas emoções, sentimentos, estagiam de formas as mais variadas, em razão de que, cada ser é especial, e os seus interesses, seus sonhos, suas fantasias, são únicas, em que pese às vezes seguirem mesmos trilhos, todavia cada qual em face de sua personalidade e seus anseios, e necessidades inerentes de crescimento de cada qual, em, todos os sentidos, seguem caminhos diferentes, e sabemos serem os intuitos os mais diversos, não obstante todos seguirem o curso de suas vidas com propósitos únicos de felicidade, mas, uns demoram mais, outros menos, nessa viagem, e é natural, compreensível, porém é imperativo seguir a diante, a ninguém é dado o direito de estacionar indefinidamente, ou regredir, uma vez que estamos todos em trabalhos de evolução em busca do proprio eu.

 

E isso se dá de forma isolada, e tinha que ser mesmo individual, em atendimento ao livre arbítrio, não nos veja pelos fatores pelo coletivo, pois cada ser segue sua dinâmica, que deve ser respeitada, e cada qual margeia os seus rios com as métricas das suas existências, da sua compreensão perante a vida, suas atitudes, suas reservas morais, seus traquejos, e são conjuntos de regras inerentes a cada pessoa, uma vez que as individualidades são portas de acesso, e de saída, e cada qual no que tange às suas ambições, envereda por esse ou aquele caminho, e são predileções, e mesmo que duas ou mais pessoas trilhem mesmas rotas, os caminhos de acesso de cada qual se dará em função das experiências acumuladas, do seu dinamismo como um todo, em função da sua vontade, e dessas escolhas que preponderantemente, é nosso arbítrio, e são significados, e metas, que pretendem alcançar, visto que, a vida é feita dessas eleições, dessas opções, e dão o norte, e será o fio de prumo, o ponto de equilíbrio, objetivando que cada qual escreva sua própria história.

 

O ser humano é ambíguo por natureza, e isso propicia o entendimento de que o certo ou errado, é questão de ocasião, de momento, e o que hoje é errado amanhã pode não o ser, e vice-versa, daí os julgamentos precipitados não serem propósitos, não temos a cora do rei, apesar de assim agirmos, e pensarmos. Logo, as críticas não encontram guarida, a vida é dinâmica, uma imensa roda gigante, que nos coloca em vários estágios na vida em frações de alguns segundos e saber administrar cada um deles são dons, não existe a verdade absoluta, existe, sim, as verdades que norteiam os princípios, e esses por sua vez se coadunam com as regras, e as normas, pois vivemos em sociedade, e viver em sociedade é viver em comunhão, ou deveria ser, e acatar e vivenciar regras e normas, as leis, em proveito do bem estar de todos, do coletivo, e de si próprio, e isso é princípio fundamental, constitucional!

 

E esse bem estar de todos, soa talvez como utópico, nos dias atuais, se olharmos a vida pelos prismas das igualdades e desigualdades, onde os desiguais na razão da sua desigualdade se aproximam de uma igualdade que deveria ser o bem coletivo, todavia nem sempre esse bem coletivo propicia as suas abrangências na acepção da palavra, e do termo, pois invariavelmente se distancia dessas verdades, no que se vincula aos seus êxitos.

 

Dai, quando margeamos os nossos rios vamos encontrar uma realidade cujas possibilidades nem sempre serão respostas para os nossos anseios, pois, o coletivo como sinônimo de oportunidades iguais, não importando raça, credo religioso, gênero, mas em suma a criatura humana, são abstrações, e pode causar frustrações gigantescas.

 

O bem da coletividade tem sido quimeras, pano de fundo das utopias, e esse monstro de duas cabeças, pensam com uma e raciocina com outra, o que equivale dizer que amiúde não há uma unicidade de propósitos, nem de ideias, há sim, lacunas, abismos alimentados anos a fio nas desigualdades asfixiantes, nesses modelos de sociedades díspares, a ser na cor da pele, opção sexual, opção religiosa, etc, etc, gerando correntezas rios de nossas vidas que deságuam de forma vertiginosa, e nem sempre em face de nossas tendências, nossas falhas, nossos acertos, oportunidades, mas, sobretudo em função de imposições que estão acima da nossa vontade, e ardilosamente, espelham a cognição, a enfatizar que quebrar tais paradigmas, é árdua jornada, porém deve ser perseguida até a exaustão não se abrindo mão de combater tais disparates.

 

E não venham me falar em sociedade igualitária nos dias atuais, volto a bater nessa tecla, pois são símbolos da imaginação, e são metáforas, são representações, onde o faz de conta, é essa besta que anda de pernas de pau se equilibrando nas próprias incongruências, vivendo dos espetáculos cujos circos estendem lonas sobre nossas cabeças, atores principais e coadjuvantes, e somos ao mesmo tempo o palhaço e o telespectador, e vaiamos e aplaudimos a nós mesmos, ainda sem a real dimensão, às vezes do nosso papel nessa sociedade, e isso cria os arquétipos, o personagem social se perde.

 

Esses rios vão desembocando suas virtudes, ou seus achaques, e nos arrastam, e as enxurradas que se avolumam em nossas vidas, se não tivermos atentos, quando nos damos por conta estamos boiando a deriva nessas águas das temeridades, vez que a imprudência não gera sentindo figurado na narrativa, nem nos eufemismos, apenas ratifica o modo como agimos, e nos dá a impressão de que nós criatura humana nos permitimos às vezes ao insucesso, por negligência, comprometendo as nossas verdadeiras aspirações, de evolução, assim, tudo fica dubitativo, a cabeça gira 360 graus, procurando culpados.

 

Daí, esses rios que deveriam seguir o seu curso normal ficam adjetivando o concreto e o abstrato, o concreto é inerente a nossa personalidade e vão definindo os perfis das criaturas humanas ante sua existência própria aonde a individualidade vai rasgando os estereótipos e vai dando de cara com o ser real despojando-se das amarras, liberando-os de suas culpas, pois ficar atrelado a elas é vegetar, não falo de irresponsabilidade pelo prisma de não assumir as suas ações, seus feitos, contudo, ficar remoendo o passado é não seguir adiante, é prender-se dentro dos casulos existenciais, vivendo sempre como lagartas, rastejando socialmente, e não empreendendo os voos das gaivotas.

 

E, ao ver esses voos, nosso olhar dá uma festa, e o abstrato por sua vez, tenta negar essas possibilidades, e segue definindo os padrões de comportamentos, a seu bel prazer, lançando mãos dos arquétipos, na tentativa de rotular as idiossincrasias, negando esses comportamentos e padronizando atitudes.

 

Pode haver sim, grupos com mesmos pensamentos objetivando mesmos desígnios, com o fito de obterem mesmas respostas para esse ou aquele entendimento, porém cada ser do grupo é único, sua personalidade interfere nas suas decisões, o que importa informar que num mesmo grupo objetivando resultados iguais, cada ser guarda distâncias entre si valiosas, que não podem ser violadas, se não compromete a identidade, e mesmo dentro ou fora do grupo cada qual conserva as suas características que não se mistura por princípios, daí entendermos as diferenças entre as criaturas humanas, suas catarses, pois, os pontos de equilíbrio são distintos, o crivo da formação moral e intelectual de cada ser é peculiar, e cada qual segue o curso dos seus rios, abraçado à suas metas.

 

A subjetividade é proporcional ao indivíduo, e seus sentimentos devem ser respeitados, isso proporciona o entendimento de que cada ser é ímpar, e sendo inusual, as suas ideias também o são, e as suas decisões devem ser acima de tudo prezadas.

Esse prolegômeno é parte da tese, apresentada pelo professor de Filosofia, Antônio Prudente Silva, quando do seu Doutorado.

 

Prudente, professor de escola pública, professor do ensino médio, casado, pai de 02 meninas, Ana Wilma, e Ana Amália, com 14 anos e 16 anos de idade, respectivamente, e que estudam na mesma escola em que o pai leciona para orgulho da família.

A sua esposa, formada em pedagogia, professora de 1º grau, dona de uma escolinha no bairro onde mora, Escola Recanto da Aprendizagem, e que goza de grande conceito, tanto que nas séries iniciais, as vagas são bastante disputadas, os pais dos alunos vêm com bons olhos como a aprendizagem é bem resolvida na instituição entre outros fatores pedagógicos, e, a professora Maria Augusta, esposa de Prudente, juntamente com suas funcionárias competentíssimas profissionais ilibadas, exercem o seu mister, sua missão de educar, com zelo, dedicação, e amor pela educação.

 

D. Maria Augusta, tem gosto que as filhas sigam as suas pegadas, porém ambas declinam dessa trajetória, a mais velha quer estudar para ser advogada, quem sabe, juíza. A caçula ainda uma incógnita, todavia já sinaliza timidamente sua predileção pela área da saúde, médica ou enfermeira.

 

Augusta Prudente, espera um dia demovê-las, porém quanto mais os anos passam si sente impotente, pois notara que a personalidade forte de ambas, é um grande entrave, e ademais se trata das aspirações profissionais de ambas, o que devem ser respeitadas.

 

Certa feita, mais precisamente na manhã de uma terça-feira, às 10h45min, chegou um oficial de justiça ao estabelecimento de ensino Recanto da Aprendizagem, com uma intimação, Sra. Augusta recebeu-o pressurosa, assinou, assim, deu-se a notificação, e após a saída do mesmo com grande pressa releu o conteúdo, não desmaiou, porém esteve bem próximo, colhia a informação de que ela como sua diretora e dona do estabelecimento, e a professora X, devem se explicar em relação aos abusos que vem ocorrendo, prática odienta com reflexos no que tange à pedofilia, e à corrupção de menor.

 

Refeita até certo ponto do grande incômodo, e do susto inenarrável, e ainda sob o efeito da perplexidade, atônita, ligou para o advogado e amigo da família Dr. José Tenório Cavalcanti, este incontenentemente prevendo a gravidade da situação dirigiu-se apressadamente ao estabelecimento, até por que, também queria tranquilizá-la, dentro da sua capacidade, era padrinho da sua filha caçula.

 

Chegou, encontrou-a prostrada sob uma cadeira sem ânimo, e chorando copiosamente, vinte e cinco anos de exercícios da sua profissão, e agora via seu nome, e da sua instituição sendo arrastado para aquele lodaçal infame e nefário, ele colheu as primeiras impressões, ali mesmo em pé, e a sua experiência vislumbrava gravidade da situação, e de posse do documento saiu às pressas à cata de providências.

 

Tenório dirigiu-se ao Ministério Público (MP), o MP, zela pela integridade, disponibilidade, tempestividade e clareza das informações, é fiscal da lei, e lá ficou sabendo da intenção da denúncia, já havia o inquérito, tudo estava devidamente formalizado, e no prazo de 15 dias, será inevitável.

 

A disposição do inquérito policial é a apuração dos fatos que configurem uma infração penal e sua respectiva autoria, além disso, também é ferramenta que tem por objetivo evitar a procedência de acusações infundadas.

No que diz respeito à escola, os fatos versavam sobre a prática da pedofilia, e o crime de corrupção de menor, art. 218 do Código Penal, supostamente praticado pela professora X, de 32 anos de idade, mãe de 02 filhos, um menino e uma menina, acusada de estar se envolvendo com duas alunas menores impúberes, uma de 05 anos de idade, e, a outra de 06 anos de idade.

 

Pasmem a pedofilia, essa prática torpe e execandra, por se só não é crime, pois se configura como um quadro de psicopatologia, e o indivíduo pode nunca chegar a cometer nenhum crime por controlar seus impulsos sexuais.

Às vezes, a prática consegue ser enquadrada em outros artigos sobre crimes sexuais contra vulneráveis, vejo gritante distorção, pois para mim todo crime sexual decorre de abuso sexual, por exemplo, o estupro é crime, e não há como negar o abuso sexual.

 

Contudo, já existe projeto, o Projeto de Lei 4299/20, que busca tipificar o crime de pedofilia no Código Penal, e dessa forma alcançar todos aqueles que usam dessa prática torpe e execrável.

 

A OMS (Organização Mundial de Saúde) entende ser a pedofilia uma doença, e é considerada como um transtorno mental (transtorno pedofílico), não sendo crime, não é tipificado pelo Código Penal, assim como o Abuso Sexual, porém é de bom alvitre frisar, mencionar, que cerca de 80%, ou um pouco mais dos que praticam a pedofilia, os abusos sexuais contra crianças são perfeitamente capazes mentalmente e não apresentam nenhum sinal de demência ou qualquer problema mental que altere seu discernimento, provando assim que são plenamente capazes e sabem o que estão fazendo, apresentam características tais como, QI acima da média, classe social mais alta, geralmente não cometem outros crimes, todavia cometem uma ação das mais ignóbeis, se e escondem e tiram proveitos no que concerne o entendimento da OMS, ao ver a pedofilia como crime.

 

As marcas profundas que ficam nessas vítimas (crianças), que na maioria das vezes são alcançadas por sequelas gravíssimas, e passam a ter baixa autoestima, desconfiança, pesadelos frequentes e repetitivos, tentativas de suicídio, dificuldade para se alimentar, havendo transtornos como anorexia ou bulimia, os medos, fobias, puberdade precoce, transtorno de estresse pós-traumático, dificuldades interpessoais com os pais e posteriormente com seus próprios filhos, ansiedade, estresse, maior tendência ao uso de drogas para fugir da realidade, desempenho do comportamento sexual, conhecimento atípico do sexo, sentimentos de exclusão, isolamento, hiperatividade, agressividade, baixo rendimento escolar, entre outras sequelas.

 

A riqueza de detalhes da “relação extraclasse” foi denunciada, expostas, pelas 02 menores, horripilantes narrativas, dantesca situação de abusos, que narrados com riqueza de detalhes, por certo o “melhor filme pornô” de longe perderia para tal enredo.

 

Havia uma revolta geral, logo a bomba estourou, e fez grandes estrondos, grandes estragos, tanto na reputação da escola, como na vida da professora X, envolvida nos supostos casos amorosos, como no cotidiano da Professora Maria Augusta Prudente, diretora da escola.

 

Foi inevitável o fechamento da escola, mesmo que de forma temporária, porém a nódoa a mancha, desbotaram os vernizes sociais, e é para sempre, não existe desinfetante moral que repare ainda, não existem antissépticos morais dessa monta capazes de restabelecer o caos, como se nada tivesse ocorrido mesmo que mais tarde a verdade se apresente, mostrando a verdade dos fatos.

 

A imprensa como de costume fez o seu papel, e o sensacionalismo ganhou as páginas das diversas mídias, estavam mais preocupados em tirar proveito da situação, do que buscar a verdade dos fatos, apontar os dedos rende mais ibope.

 

Demos um salto importante, omitindo alguns capítulos, pois as acusações eram as mesmas, a opinião pública, a sociedade, a mídia em geral já houvera condenado a escola e a professora X, sentença implacável, escorada na possibilidade do fito pedagógico, o caso assim exigia, e serveria para inibir possíveis seguidoras. Chegamos ao dia da audiência de instrução e julgamento, na sala de audiência, no fórum da cidade, formou-se grande aglomeração no entorno, vários curiosos, estudantes de direito, ambulantes, tinha de tudo, na sala de audiência não cabia mais nem uma única agulha, a juíza, e sua assessora, e os respectivos advogados, a promotoria, os envolvidos no polo ativo e passivo, alguns pais de alunos, contudo causou estranheza, os pais das alunas, não estarem no recinto, e sim numa outra sala.

 

É bom frisar que a professora X, está vivendo um grande inferno astral, foi condenada pela família, pelos amigos, seu marido pediu o divórcio, e a guarda dos filhos. Sem emprego, tendo o dedo da sociedade em riste voltado para si, em que pese jurar inocência, viu-se desalentada, porém de forma alguma perdeu a esperança de que a verdade se faria presente, devota de Santa Tereza D'Ávila, apelava com fé, e além do mais tem grande confiança no seu advogado, Dr. Spinelli, penalista, como se dizia na gíria, de mão cheia.

 

Faltava mais ou menos uma hora e meia, nem precisa dizer que a professora estava crucificada na intenção e na imaginação de cada um, e por certo se não fosse o aparato policial, de certo, seria linchada, e a coroa de espinho que já rondava sobre sua cabeça precisamente lhe seria cravada impiedosamente, e a cruz, haveria de ser improvisada naquele momento. A grande arena do pão e circo estava improvisada como nos tempos de Júlio César e Nero Cláudio, e a turba ensandecida esperava ansiosa pelo espetáculo.

 

De repente notaram a saída apressada da Promotora, que se dirigiu para uma sala contígua, onde estavam às meninas, os seus pais e alguns psicólogos, estabeleceu-se um burburinho, um zum-zum-zum, que logo foi controlado, passados dolorosos minutos, a juíza pronunciou-se, informando que um fato novo, iria obrigar o retardamento dos trabalhos em mais ou menos 02 horas.

 

O calor insuportável fora aliado daqueles que procuravam impor a ordem no recinto, pois todos telespectadores foram serenando, vencidos pelo torpor, mais, contudo a expectativa se ascendia a cada minuto que passava, precisavam extirpar o pecado da sociedade, e por detrás das suas máscaras faziam cobranças, apontavam o dedo, condenavam. Somos eméritos em apontar os defeitos alheios, esquecendo-se de que quando apontamos o dedo para alguém, 04 estão voltados para nós mesmo, isso não é empirismo, ou psicologia barata, nem eventualidade, é ciência, e, há sim racionalismo.

 

A grande expectativa sede lugar agora ao inconformismo, e esse modo de agir, deriva da necessidade do imediatismo de um julgamento apressado o que importa é que as nossas expectativas sejam, satisfeitas, custe o que custar mesmo a condenação de um inocente, às duas horas passaram como se fosse um século, principalmente para a professora Maria Augusta, diretora e dona do estabelecimento educacional, e a professora X, mas, passaram angustiantes.

 

De volta ao salão, a Promotora conversa demoradamente com a juíza, que deixa transparecer no seu rosto, alívio e estupefação, e tomando da palavra (Juíza), concedeu à Promotora, que acompanhada de 02 psicólogas infanto-juvenis, começou expor os fatos, foi um trabalho exaustivo, com as crianças e seus familiares, buscando acima de tudo, o bem estar de ambas, e a verdade, e chegaram à conclusão de que tudo não passara de fantasias.

 

As duas meninas por diversas vezes altas horas da madrugada flagraram seus respectivos genitores, sem que esses soubessem em seus colóquios amorosos, estavam sendo observados por suas filhas, e foi formando-se na cabeça de ambas uma distorção reforçada pelo Complexo de Electra, uma teoria psicossexual voltada para as meninas. Durante uma parte de seu crescimento, as meninas desenvolvem uma preferência afetiva pelo pai, desenvolvendo sentimentos de rivalidade com a mãe, o chamado complexo de Édipo feminino, ou complexo de Édipo invertido, esses transtornos do comportamento específico encontra fundamentação nos ensinamentos respectivamente de Sigmund Freud, e Carl Jung.

 

Por mais diferente que cada indivíduo seja, todos se assemelham na sua etapa de desenvolvimento psicossocial, Jung assevera que a relação das garotas com os pais é instigada por seu desenvolvimento sexual, na medida em que o crescimento psicológico das meninas evolui, a atração pelo pai cresce junto, e como este mantém uma relação amorosa com a mãe, a garota passa a vê-la com uma rival, o que aconteceu é que, as meninas viram na professora X, a figura das suas respectivas mães, e tentando puni-las, por amor ao pai, atribuíram as carícias amorosos, à professora X, num clássico caso de transferência, e segundo Freud, essas transferências podem emergir como uma exigência intensa de amor,e é bom reforçar, que a partir dos 03 anos, a menina começa a mostrar certa conduta de fixação ou paixão pelo pai.

 

Só após em face das contradições e incongruências, as psicólogas puderam chegar a um diagnóstico preciso, o que foi sustentado pelas falas das menores, seus comportamentos, e acima de tudo, como sempre se referiam às respectivas mães como alguém indesejado, e que estava lhes causando grande mal.

 

Como a sociedade clamou por um desfecho, logo, e imediato, observando-se todos os trâmites e prazos legais, e para dar uma satisfação à ordem pública, e à opinião pública, a justiça, marcou a audiência de instrução e julgamento em tempo recorde, de forma açodada, foi quando se tinha chegado a um entendimento plausível do que aconteceu, e que a professora X, é vítima, não ré. Fez-se silêncio ensurdecedor, quando ouviram da Juíza, que a audiência estava suspensa, e expondo largamente o motivo sob a ótica do direito, e da justiça, todos se entreolham, o circo não pegou fogo como queriam, Roma não ardeu em chamas, Nero não estava presente, e um a um, numa grande procissão dos desapontados, em romaria, foram saindo, sem voz, sem vontade, e apáticos.

 

A professora X, não chorou, pois não tinha mais lágrimas, apenas mais uma vez orou á padroeira dos professores, em agradecimentos, professora Maria Augusta Prudente, seu esposo, o professor Antônio Prudente, e suas filhas, esses, sim, choraram assaz, e também agradeceram aos santos de suas preferências, não se sabem quais, talvez tenham agradecido diretamente a Deus!

 

Sabe-se que os prejuízos foram incalculáveis, tanto os prejuízos materiais, quanto os prejuízos emocionais, originando danos morais inestimáveis, pois a dignidade da pessoa humana enodoada como consequência da ofensa à reputação é irreparável, daí, eu não me ater ao prejuízo material, houve, foram muitos, foram contundentes, amargos, atrozes, ferozes, o fechamento da escola, professoras perderam seus empregos, não tem remédio de imediato, porém por maior que seja, esse prejuízo, o prejuízo moral é mais devastador, sob todos os aspectos falando, em razão de que às vezes são irreparáveis, e psicologicamente criam raízes difíceis de serem extirpadas, deixam sequelas.

 

O prejuízo material arranja-se de várias maneiras, entre eles através do trabalho árduo e com afinco, no que concerne à moral, uma vez arranhada levanta-se um muro quase intransponível, um abismo, um precipício, um labirinto no qual o ser mergulha sem grandes perspectivas de obter sucesso. Não digo ser irremediável, nem impossível, contudo vencer tais obstáculos, além da grande perseverança, força de vontade, e a crença num ser maior, será indispensável, o prevenir da depressão.

 

Professora Maria Augusta Prudente, e a professora X, se quiser reaver as suas vidas, adotarão um ponto de partida, como meta, e no que tange às mudanças necessárias e ao esquecimento das ofensas, serão exercícios, desvencilhando-se precisamente das armadilhas das mágoas (tarefa muito difícil), porém, essa diligência, está atrelada aos princípios, e à personalidade, à individualidade, aos tirocínios existentes no arcabouço psicológico e moral de cada uma, no entendimento de que cada pessoa reage aos seus rios de desventuras, a esses rios caudalosos de maneiras mais variadas possíveis, pois somos seres humanos únicos.

 

No entanto, é imprescindível, que cada uma a seu turno, façam as suas catarses necessárias, e sozinhas, terão que atravessar de uma margem a outra os seus rios das adversidades, seus rios caudalosos das desventuras, despoluindo-o, e despoluindo-se, e no que concerne a sentimentos de culpas, até porque não houve comprometimentos no que tange aos seus próprios padrões de conduta moral e ética, e é totalmente inevitável, indispensável, fazerem importantíssimas ab-reações, é fundamental, consentâneo, a isso se chama recomeço.

 

E a esse recomeço, chama-se, dar a volta por cima, o que ensejará motivo de recuperação e reestruturação, de si mesmas, de suas vidas, paulatinamente, no entendimento de que qualquer ser humano está propenso a tais desafios, a vida é uma caixa de surpresas, e deve-se entender de forma plausível, que todo recomeço exige novos padrões de comportamento, nova visão de vida, principalmente pelo prisma do perdão das ofensas, e acima de tudo há de existir uma vontade preponderante de trilhar novos horizontes, abrir novas varandas na alma, sacudir as poeiras, retomar o equilíbrio, e com mais essa bagagem, voltar confiante às estradas da vida, pois tudo é aprendizado.

 

E saber que, cair e levantar-se, humaniza o ser humano, sem sombra de dúvidas, os tornam ainda mais conscientes de suas possibilidades, de suas fraquezas, de suas riquezas existenciais e interiores, de suas limitações, e aponta-lhes caminhos, e direta e indiretamente aconselha, mas deixa o livre arbítrio apresentar as perspectivas necessárias, sem violar o ser humano, e abre-lhe ainda mais as portas alvissareiras das percepções, e desta maneira, propiciam que se tornem mais seguros, e principalmente volte a acreditar em si mesmo. É preponderante, é cogente!

 

Porém, no que diz respeito às pessoas à sua volta esse processo é mais demorado, pois os rios caudalosos da desconfiança que minaram a autoestima e as resistências físicas e morais, devem ser encarados de frente, sem medos, ou fobias, inclusive a fobia social, e de forma alguma deverá abrir mão dessas conquistas, as crises existenciais existem, contudo devemos lutar no escopo de vencer quaisquer que sejam os desânimos, e não se deve abrir mão, e por quê? Por que, sair pela tangente levando consigo mágoas, dissensões, o ser ficará irremediavelmente preso ao passado, fechando-se em si mesmo, o que gerará ilações, que podem originar consequências ainda mais drásticas.

 

Tudo o que o ser mais precisa nesses momentos, é renovar-se, despojar-se de quaisquer andrajos sociais de piedade de si mesma, renovando as suas ideias, o seu modo de ver a vida, crer piamente que nada acontece por acaso, e dai tirar as lições essenciais, visto que a vida é eterno aprendizado, uma escola, e de forma decisiva passar ouvir mais a voz do seu silêncio, pois gera paz, e devem ser mais complacentes consigo mesmas, e com as pessoas a sua volta, custe o que custar, e tem preço, e principalmente aceitar-se como é, entendendo que às vezes somos impotentes em relação a alguns acontecimentos da vida, que fogem à nossa alçada, ao nosso controle, e na maioria das vezes não temos como deter as avalanches quando elas se precipitam sobre nós.

 

Todavia, como sapiência, e de forma inteligente e humana, podemos minimizar os seus efeitos nadando de maneira hábil, evitando quando possíveis novos naufrágios, e se desembaraçando dos grilhões, de culpas, e temores, ressentimentos, angústias, e enfrentar de peito aberto esses rios caudalosos, essas águas toldadas das irreflexões, e atravessá-los vencendo-os, e a essas adversidades, que parecem querer tragar, é inequivocamente o suprassumo do crescimento mental e espiritual, e jamais esmorecer, e tão pouco olvidar a sua capacidade de reinventar-se, e seguir adiante e, de forma decisiva, nadar com braçadas vigorosas, firmes, braçadas de confiança, vencendo primeiro as diversas correntezas que se apresentam em nossas vidas, e em seguida a nós mesmo.

 

“Sê fiel a ti mesmo...”, convida Shakespeare, para esse diálogo em questão, que são objetivos, no entendimento de que jamais percamos as esperanças, nem, nadar contra as marés de vicissitudes, mas, acalmá-las, com consciência, e cognição, em busca das bonanças redentoras em nossas vidas, o que nos propiciará, não só nadarmos em águas mais tranquilas, mais cristalinas, como, o reabrir das asas, e voltar a voar sobejamente, livres das amarras existenciais, dos conflitos, em busca de si mesmo.

 

Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, asseverou que o homem e a mulher, não podem, sobreviver se a vida não tiver um sentido, e Viktor Frankl, que nos apresentou à logoterapia, corrobora esse entendimento, ao afirmar que nossa vida tem que ter um sentido existencial, nos distanciando das amarras, e resgatando o ser de luz que somos cada um de nós.

 

E Jesus, testemunhou que para encontrarmos esses reinos dos céus, cujas fronteiras dimensionais, estão no íntimo de cada criatura, o ser deve entender que a vida é um crescer em direção do infinito, e convida, amorosamente, mais uma vez, à professora X, e à professora Maria Augusta Prudente, a repassarem diariamente essa lição, e a exercitar-se em direção ao amor, e não deixarem de contemplar as estrelas, e deslumbrar-se.

 

Albérico Silva

 

AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 24/06/2022
Reeditado em 08/11/2022
Código do texto: T7544659
Classificação de conteúdo: seguro
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