Conto das terças-feiras – Quatro jovens brasileiros em Itália
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE – 14 de junho de 2022
Quatro estudantes brasileiros estavam morando em Londres, Inglaterra, há mais de um ano, estudando na King’s College of London. Entidade de educação superior bastante respeitada no Reino Unido, fundada por George IV no ano de 1829. De elevada reputação nos meios acadêmicos, figurando entre as melhores nas listas do gênero. O início das férias de verão no Reino Unido, as mais extensas naquela região, como no Brasil, variando entre dois e três meses, indo de junho a agosto, levou os estudantes a escolherem a Itália para gozarem suas férias.
A região escolhida, como primeira visita, foi Milão, na Lombardia, ao norte da Itália, referência quando se trata de moda e design, consagrada no mundo inteiro. Um dos estudantes tinha um parente que abrira um restaurante brasileiro naquela cidade, e como os jovens estavam saudosistas em relação à culinária de seu país, há tempos longe do Brasil, não tiveram dificuldade em escolhê-lo como primeira visita “turística” da cidade. Ao chegarem de viagem, foram logo em busca do restaurante brasileiro – precisavam sentir o cheiro e o gosto, novamente, da feijoada, do baião-de-dois com queijo, do caruru, do vatapá, da peixada e da carne do sol já que entre eles havia um baiano.
O dia seguinte foi reservado aos lugares tradicionalmente visitados pelos turistas, como a Bolsa de Valores Nacional, localizada no centro financeiro, onde também estão as lojas, Prada, Louis Vuitton, Dior, no quadrilátero da moda circunscrito entre as Vias della Spiga, Montenapoleone, Manzoni e o Corso Venezia, e alguns restaurantes mais sofisticados da cidade. Passaram pela Catedral Gothic Duomo di Milano e o convento Santa Maria delle Grazie, que guarda o famoso mural de Leonardo da Vinci "A Última Ceia", testemunho de séculos de arte e cultura.
Ao anoitecer, já cansados e com fome do dia longo percorrido, foram até um restaurante de tradição italiano para se deliciarem da comida típica daquela região. A ideia era certificar-se da qualidade e da beleza dos pratos preparados pelos italianos, considerados por muitos como os melhores pratos de massas do planeta. Restaurante bastante agradável, antigo, mas de muito bom gosto em seu aspecto interior. Como eram estudantes, com pouco dinheiro no bolso, e ainda, muito para conhecer, procuravam desembolsar o mínimo, o lema era gastar pouco. Hospedaram-se em albergue (hostel) barato, sempre que possível andavam a pé, economizando também na alimentação. Ao receberem o menu (cardápio) das mãos do garçom, o grupo examinou os preços e perceberam que existia um prato de Spaghetti alla puttanesca que incluía alcaparras, orégano e as deliciosas azeitonas pretas, que dão ao prato um sabor único. Era uma refeição para quatro pessoas com um preço bastante interessante para quem necessitava economizar o máximo possível.
Antes do prato principal chegar à mesa, o garçom, falando em italiano perguntou aos rapazes se gostariam de pães com ervas finas de entrada, tendo o grupo concordado. Os pães eram pequenos, apetitosos, servidos em cestas de capim seco do mar, com detalhes em madeira.
No total foram cinco cestas de pães, contendo quatro unidades cada uma, colocadas à mesa antes da chegada do prato principal. Minutos depois, o Spaghetti foi oferecido em uma quantidade generosa e os jovens conseguiram tirar a prova de que realmente os italianos entendem de massa.
Ao estarem satisfeitos, pediram a conta e levaram um susto com o preço cobrado, valor bastante diferente do descrito no cardápio. Na verdade, foram cobrados os pães de ervas finas, com custo quatro vezes mais elevado do que o prato principal, pegando os jovens rapazes de surpresa. Saíram indignados do restaurante milanês, mas satisfeitos por terem degustado a verdadeira macarronada italiana, preparada por mãos italianas e saboreada em restaurante da Região da Lombardia.
No restaurante brasileiro, no dia anterior, o valor cobrado por pessoa, tinha sido bem mais em conta. A entrada, também de pães maiores, azeitonas pretas salpicadas de ervas, temperadas com sal e azeite de oliva, fazia parte do valor a ser pago pelo cliente.
Em outra visita ao restaurante dos brasileiros, os estudantes comentaram sobre o ocorrido no estabelecimento italiano, sendo informados que eles não tinham sido enganados. A falta de atenção dos jovens, não os levaram a observar as normas configuradas no cardápio, que indicavam a cobrança, em separado, das entradas. Em novas viagens, mais espertos, o grupo sempre perguntava para os que lhes serviam, o preço do prato sugerido e o que mais estaria a ele, agregado.