Conto das terças-feiras – Voo adiado
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE – 24 de maio de 2022
A preparação para uma viagem de avião é sempre um desconforto, fazer as malas, com cuidado para não exagerar nas peças de roupas e no que mais levar. Minha mulher arruma nossas malas com três dias de antecedência, perguntando frequentemente se não está faltando nada. Separo o que pretendo levar, ponho sobre a cama do quarto de hóspede, calças, cuecas, pijamas, meias, e se for para uma cidade praiana, calção de banho, dois ou mais, ela sempre diz que se um não secar, terei os outros dois. Não deixo faltar dois pares de sapatos, dois cintos, combinando com a cor dos sapatos, duas sandálias, se uma quebrar, terei a outra. A compra das passagens é realizada com muita antecedência, sempre em dias de melhor preço, a não ser quando se trata de uma viagem não programada, repentina.
No dia da viagem procuramos chegar bem cedo ao aeroporto, para evitar problemas, e se eles aparecerem sempre haverá tempo para solucioná-los. Agora, principalmente, pois só é possível marcar assentos com antecedência, pagando, caso contrário, somos sempre premiados com os do fundo do avião. Felizmente temos conseguido fazer permuta para as poltronas mais ao meio da aeronave, já que sempre há faltosos ou cadeiras não vendidas, à frente das nossas. Argumento que tenho labirintite e viajar atrás causa-me tontura, o que é verdade.
Em uma das últimas viagens, saímos de casa bem cedo, quatro horas antes da partida do voo. Um dos filhos nos deixou no aeroporto e retornou para casa prontamente, tinha compromisso. Duas horas depois o “check-in” abriu, despachamos nossas malas, falei que queria trocar de lugar, esclarecendo o motivo para tanto e a funcionária atendeu-me de imediato, dizendo que o trecho que iríamos voar tinha alguns lugares não comercializados. Agradecemos e fomos zanzar pelo imenso salão de embarque, tomamos cafezinho, olhamos as vitrines, e nos sentamos para descansar.
Faltando uma hora para embarcarmos, fomos chamados ao balcão da companhia para ser informados que o voo estava cancelado, por problemas técnicos e que só seria realizado na manhã do dia seguinte. Não queríamos retornar para nossa casa àquela hora, 20 horas. A atendente da companhia informou que teríamos que ir até o outro balcão para solicitar acomodação em hotel e “voucher” para o jantar e café da manhã, desde que não morássemos em Fortaleza.
Depois de avaliar os prós e contras, como ir àquela hora da noite para casa, dormir e não acordar antes do horário do voo, decidimos que uma mentirinha não mancharia nossa reputação, já que estávamos nessa situação por culpa da companhia aérea.
Dirigimo-nos ao balcão indicado, fizemos o nosso cadastro informando que éramos residentes em Juazeiro do Norte. Quando fomos perguntados pelo nosso endereço, falamos ao mesmo tempo, sem termos combinado “Fazenda Santa Helena”, distante da sede do município. A moça fez a anotação, entregou-nos as referências do hotel para onde iríamos e os vouchers. Também indicou um veículo que nos deixaria no local indicado para passarmos o resto da noite.
Fomos levados para um hotel localizado em frente ao calçadão da Beira-Mar de Fortaleza, logradouro àquela altura bastante animado, era um sábado. Nos acomodamos no apartamento, tomamos uma ducha rápida e descemos para o restaurante, para jantar. Depois fomos andar pelo calçadão, tempo depois voltamos e fomos dormir.
Às seis horas do dia seguinte, domingo, fomos acordados pela recepção do hotel, indicando que o veículo que nos levaria até o aeroporto, chegaria às 10h30. Sonolentos, verificamos que ainda tínhamos bastante tempo para tomar um café bem reforçado, tudo aquilo por conta da companhia aérea, em função do cancelamento do nosso voo.
Às 13h30 o avião levantou voo, para uma viagem tranquila, sem atropelos e bastante descansados. Chegamos aos nosso destino quatro horas depois, pegamos um taxi e rumamos para o hotel onde havíamos reservado hospedagem. As malas chegaram bem, nada faltava, graças a Deus. Mais tarde fomos passear nos lugares previamente escolhidos, e assim, passamos oito dias maravilhosos de nossas férias.