A Saga de Godofredo XXIV – A Trégua

11.05.22

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Ao alvorecer do dia, Schain na ponte do navio visualizou a frota cruzada aproximando-se e ancorando a cerca de uma milha náutica distante da sua popa. Não esperava essa situação. Ficou preocupado e ainda mais raivoso. Teria que convocar os seus subcomandantes para definirem como se defenderiam, pois seriam cercados e dizimados!

Viu um escaler vindo em direção ao seu navio com um militar cristão em pé. Um oficial. Era Xenofonte, ajudante de ordens de Janet enviado para informar a Schain da proposta de trégua e acordo por meio de uma carta escrita por Saladino.

Xenofonte subiu a bordo e encontrou-se com Schain no convés e disse-lhe:

-Sou o capitão Xenofonte, ajudante de ordens do comandante Janet e trago-lhe esta carta redigida pelo sultão Saladino, seu chefe supremo, para que acate a proposta de trégua de dois dias a partir do inicio desta noite. Também, aguarde a definição de acordo que está sendo discutido entre ele e o nosso rei Ricardo envolvendo a ilha de Malta.

Schain recebeu o papel e leu com atenção, rangendo os dentes de raiva. Seu rosto estava transfigurado e seus olhos vermelhos de ódio. Baixou o papel e olhou para Xenofonte, que aguardava a resposta. Chamou seu contramestre para que lhe trouxesse uma folha de pergaminho para redigir sua resposta, pois era exigida. Escreveu em árabe. Xenofonte a passou para um interprete que leu em voz alta:

-Eu, Schain El Hadadd, filho do general Abbdul El Hadadd, agora comandante substituto das tropas árabes do nosso chefe supremo Saladino, aguardarei até o fim do dia de hoje a libertação dos prisioneiros. Caso não ocorra, atacarei a capital maltesa impiedosamente.

Que Alá nos ilumine e abençoe!

Xenofonte pegou o pergaminho e voltou para a fortaleza cruzada. Estavam a sua espera. Ele entrou esbaforido pelo salão mostrando ansiedade. Entregou a carta a Janet, que vendo o estado aflitivo do ajudante de ordens, perguntou:

-Parece que viu o diabo Xenofonte. O que aconteceu?

-Leia comandante! – respondeu.

Janet versava em árabe e leu em voz alta. Ao termina disse a todos:

-Schain está completamente enlouquecido e sem avaliar com frieza a situação em que se encontra o seu exército. Poderá ser dizimado por nós! Acho que devemos informar Saladino e Abbdul para que o demovam desta ação intempestiva de Schain.

Naquele instante adentrou um estafeta ao recinto com uma mensagem enviada pelo rei Ricardo, entregando-a a Janet que a leu. Depois, com ar de satisfação, deu a notícia a todos:

-Nosso rei está navegando e deverá chegar aqui amanhã cedo para definirmos as ações. Quer conhecer pessoalmente Godofredo e Saladino!

-Boa notícia, mas temos que falar com o sultão e o pai de Schain sobre essa atitude suicida do seu filho, apesar de Saladino querer lutar também, caso não haja acordo – ponderou Godofredo.

-Concordo! Xenofonte traga-os aqui agora! – ordenou Janet

Saladino e Abddul entraram no salão. Janet informou que Ricardo Coração de Leão chegaria ao amanhecer do dia seguinte e que Schain não acatara a trégua de dois dias proposta para a negociação entre os chefes supremos.

-É uma ação suicida de Schain, pois está cercado e sem condição de exigir qualquer coisa. Seus exércitos serão dizimados junto com ele e enforcaremos vocês dois com seus comandantes! – completou ameaçadoramente o chefe cruzado.

Saladino trocou olhares tensos com Abbdul ao ouvir os relatos de Janet. Esperava negociar com o rei Ricardo e não partir naquele instante para uma batalha em total desvantagem. Seria um morticínio. Schain mais uma vez demonstrara despreparo para comandar. Abbdul ficou desconsolado com a noticia, demonstrando com suas feições a sua decepção .

Godofredo falou ao pé do ouvido de Janet para não criar ambiente hostil, pois Saladino o encarava com olhos ferozes de vingança:

-Comandante, peça para Abbdul ir falar com Schain para aguardar a chegada de Ricardo e a negociação.

Janet assentiu com a cabeça e disse a Saladino a sugestão de Godofredo. O silencio permaneceu por alguns instantes no salão, mantendo a tensão no ar.

Saladino então se pronunciou:

-Vamos eu e Abbdul falar com Schain para que não ataque e espere a negociação que farei com o rei Ricardo.

Godofredo ouvindo a resposta de Saladino, pressentiu que tramava algo - o sultão era ardiloso, cochichou a Janet:

-Comandante, conheço as artimanhas do Sultão, talvez esteja prevendo que Schain possa resgatá-los. Sugiro que somente Abbdul vá falar com seu filho. Saladino deve permanecer preso, por precaução.

Janet concordou e disse a Saladino:

-Irá somente o general Abbdul falar com seu filho. Saladino permanecerá aqui aguardando nosso rei para negociar, como pediu. Xenofonte, informe ao almirante Ruan para que leve o general até o navio de Schain. Ele não poderá embarcar, falará da amurada do nosso navio!

Xenofonte saiu com Abbdul. Saladino encarou firmemente a Godofedo e deu-lhe um sorriso de escarnio ao cruzar com ele a caminho dos seus aposentos, a contragosto.

A nau com Abbdul se dirigiu ao navio de Schain, ancorando a uma distância segura, escoltada por cerca de dez embarcações cruzadas. O mar estava calmo, como o vento. Abbdul se posicionou junto à amurada vendo seu filho com o braço direito sem a mão, postado a sua frente no navio mouro. Abbdul falou com voz firme e forte:

-Que Alá seja louvado meu filho! Entendo toda a sua raiva e indignação com a traição de Hassan, manchando seu nome injustamente! Mas, não tome nenhuma decisão ou atitude precipitadas, estamos em grande desvantagem e poderemos ser aniquilados, e eu, Saladino e todos os seus comandantes seremos enforcados. Aguarde a negociação que o nosso grande sultão fará amanhã com o chefe supremo cruzado, ele está a caminho. É a ordem de Saladino, e sei que você a cumprirá como soldado guerreiro e meu filho. Que Alá nos proteja!

Schain escutou seu pai com atenção. Depois, ficou caminhando de um lado ao outro no convés do navio enquanto pensava em sua resposta. Então parou e disse de forma agressiva:

-Meu querido e amado pai, aceitarei contrariado esta ordem de nosso sultão, mas caso não haja acordo e definição até depois de amanhã, prefiro morrer defendendo a minha honra a voltar vencido sem luta! Que Alá nos ilumine e abençoe!

Nota do Autor

É obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 24/05/2022
Código do texto: T7523054
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