O PATRIOTA

João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, 92 anos de idade, dos quais 74 anos dedicados ao serviço militar, direta e indiretamente, pois mesmo após oficialmente retirar-se das suas atividades militares, continuou suas andanças por esse Brasil afora, divulgando as coisas da sua terra, e da Bahia, e do seu país, da sua gente, e principalmente mostrando e demonstrando aos mais jovens a importância de se alistarem, de servirem ao seu país, de servirem a sua pátria, de defendê-la custasse o que custasse, de forma digna.

 

E quando da execução do hino da Bahia, e do hino Nacional, com civilidade, e postura correta, na maioria das vezes, emocionava-se, até às lágrimas, essa emoção eram derivações de seu zelo e de suas expectativas por um país melhor em todos os sentidos, onde a igualdade apregoada na Constituição Federal de 1988, fosse via de mão única, e a deusa da justiça (Thêmis) tirasse a venda dos olhos.

 

Mostrava e demonstrava a todos, que deveriam levar a sério e com amor, o dever cívico, e isso fazia com exaustão aonde chegava, e não se poupava, e não poupava elogios ao militarismo, aplaudia seus heróis, seu patriotismo, era acentuadamente verdadeiro, lógico, e ao Exército Brasileiro, aonde chegou ao posto de Coronel, rendia todas as graças em agradecimento, e respeito.

 

Adepto do Ubuntu (sou quem sou porque somos todos nós), como filosofia e prática de vida, derramava empatia, respeito, compaixão, solidariedade, no entendimento de que gente precisa de gente para ser gente.

 

Hoje, contudo, debilitado, guarda vivas lembranças daqueles dias, principalmente quando aos 18 anos de idade, fora levado por seu pai, o Sr. Manoel Carvalho Silva Brasil, para se alistar, de início declinava dessa empreitada, dessa missão, pois, queria ser carpinteiro como o pai, e já demonstrava algumas habilidades, com o formão, com as réguas de aço, o graminho, o esquadro de carpinteiro, as plainas, etc, etc.

 

Tanto que os acabamentos das peças que exigiam maior esmero ficavam ao seu encargo, e como ninguém ele fazia um trabalho exemplar digno de elogios de todos e para orgulho dos genitores, as encomendas foram crescendo, e apesar da pouca idade também a fama, todos os chamavam para fazer um serviço aqui, outro acolá, e solícito, e amável, e com boa vontade atendia a todos, era carismático.

 

Todavia, Manoel Carvalho, queria outro destino para o filho, filho único, e via no militarismo a chance de sucesso, de crescimento pessoal, principalmente eles que viam de famílias humildes, e anotava que por ser caprichoso e as habilidades de que dispunha, seriam cartões de visita e a essas ferramentas valiosas, por certo no Exército, saberia dá valor, e seriam portas abertas, e é bom elucidar que esse teria sido o sonho de Manoel Carvalho,quando da sua juventude, ingressar nas forças armadas, contudo após três tentativas, e três insucessos fragorosos, desistiu, e agora colocava o espelho diante do seu filho.

 

Curvando-se aos apelos do pai, no dia 13 de Agosto, fora se alistar, e dia após, depois das exigências legais, apresentou-se fardado em casa para jubilo dos seus genitores, alegria dos demais parentes, entre eles Sr. Cláudio Carvalho Silva, seu tio mais velho, que também como seu pai, acalentara o desejo e a vontade de seguir carreira militar, porém no seu caso, uma hérnia de disco, pois fim às suas pretensões, e viu assim seu sonho perder-se entre as nuvens da sua imaginação e fantasias. Contudo, agora havia seu sobrinho.

 

Brasil, ainda não havia tomado gosto pela farda, apesar de mais de 08 meses exercendo suas atividades com o respeito e profissionalismo, e a disciplina que a corporação merecia e exigia, contudo pouco a pouco fora se acomodando à situação, e o gosto foi esgueirando-se de mansinho e o rodeando-o, e quando a voz envolvente e sedutora da pátria fizera-lhe o convite de fato, não havia como recusar, bateu continência.

 

Nunca pensara em estudar história, nunca passara pela sua cabeça, a arquitetura seria bom êxito, porém dentro da corporação esse desejo e curiosidade lhe acendeu uma chama que logo tomou proporções incomensuráveis, e as labaredas associaram-se à sua vontade, e, após fazer vestibular na Faculdade Federal da Bahia, começava no semestre seguinte seus estudos, primeiramente interessou-se pela história da Bahia, em seus mínimos detalhes, e estudou com afinco sobre as invasões, e entre ela a holandesa, que se deu entre 1624 e 1625, e que foi comandada por Jacob Willeken, quando Salvador foi fortemente bombardeada.

 

Outra guerra que o chamou bastante a atenção, foi à invasão do Mato Grosso, pelo Paraguai em 1864, comandada por Solano López, e que a união do Brasil, Argentina e Uruguai, formando o Tratado da Tríplice Aliança, culminou com a derrota e consequente morte do incomodo invasor em 1870.

 

Há esse tempo, já no quinto semestre, já havia se identificado com a farda e com a história, e se rendia incondicionalmente a ambas, lhe atraía a história de seu país como um todo, e com esmero procurou estudar a Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897, conflito armado que envolveu o Exército Brasileiro e membros da comunidade sócio-religiosa liderada por Antônio Conselheiro.

 

Foi lecionar numa escola de segundo grau, inicialmente como estagiário, e as guerras recebiam uma atenção especial no seu conteúdo programático.

 

A Guerra dos Farrapos, que se estendeu, de 1835 a 1845, e que teve como principal razão a insatisfação das elites da província do Rio Grande do Sul representadas por estancieiros e charqueadores, foi trabalhada em sala de aula cuidadosamente, estudada com pertinácia, e ele passava a mensagem para seus alunos, numa aula bem elaborada, não abria mão da interdisciplinaridade, usava os filmes que pudessem ilustrar a inda mais suas atividades, e acercava-se de grande acervo pedagógico.

 

A Revolta do Malês, que aconteceu em Salvador e passou-se na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835, essa capital era uma das principais cidades escravistas do Brasil e possuía apenas 22% de sua população formada por brancos livres, sendo os escravos africanos e seus descendentes cerca de 40% da população total, também foi objeto de seus estudos, o fez com maestria e zelo.

 

E assim por diante, ia buscando com empenho e obstinação informações, através de pesquisas, laboratórios, e tudo o que fosse viável e compatível para a sua formação pedagógica exemplar e de seus alunos.

 

Outra guerra que lhe chamou a atenção foi a Guerra da Cisplatina, conhecida na Argentina e no Uruguai como Guerra do Brasil, foi um conflito armado entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata que duraram três anos, entre 1825 e 1828, e assim por diante até à sua culminância com a Guerra da Independência do Brasil uma série de eventos ocorridos entre 1821 a 1824, no contexto do processo de Independência do Brasil.

 

Assim, ele foi se especializando no estudo da história do Brasil, e continuou a lecionar, agora como professor formado, no Colégio Militar, o que fazia com grande garbo, e era reconhecido pelos alunos, admirado e respeitado.

 

João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, pai de 06 filhos, avó, bisavó, hoje faz um balanço da sua vida principalmente de como seria senão tivesse se curvado aos caprichos de seu pai no que diz respeito a ele ingressar na carreia militar, naqueles tempos a educação era outra, e os conselhos maternos e paternos eram ouvidos com grande atenção e respeito, e as colheitas eram profícuas.

 

Tivera oportunidade, e fizera questão de visitar vários lugares históricos, principalmente os da região da Bahia, e de Pernambuco, do nordeste em geral, e não deixou passar em branco a ocupação holandesa no Nordeste, e que se estendeu de 1630 a 1654, e fazia questão de exaltar o patriotismo de seu povo que lutou bravamente, dentro das possibilidades que tinham na época.

 

Com frequência visitava os 09 estados do Nordeste, indo a museus, shows, indo a todos os lugares onde o seu Brasil fosse cantado, declamado em prosa e versos, onde se exaltasse esse povo varonil, onde houve lutas ferrenhas. Com extrema dedicação fundou as ONGs, BRASIL VENCEDOR, e BRASIL SEMPRE AVANTE, era uma das vozes das pessoas invisíveis, aquelas que as demais pessoas e a sociedade em geral voltam às costas.

 

Por diversas vezes estivera no Norte, no Sul, Centro-Oeste, Sudeste do pais, visitando os pontos turísticos, históricos, notadamente aqueles onde a historia do Brasil se desenvolveu com mais ênfase, onde houve derramamento de sangue, onde houve lutas em nome da liberdade e dignidade do povo brasileiro.

 

Em Minas Gerais, na região sudeste, pisou o solo onde se deu a Inconfidência Mineira, emocionou-se, viu como um filme passar diante dos seus olhos aqueles dias, quando Joaquim Francisco da Silva Xavier, o Tiradentes, líder da Inconfidência Mineira, primeiro mártir da Independência do Brasil, que fora no Rio de Janeiro, em 21 de Abril de 1972, enforcado, e seu corpo esquartejado e espalhado pela estrada de acesso a Ouro Preto. E sua cabeça foi exibida sobre uma estaca na praça central da cidade.

 

Morava a aproximadamente, há 46 anos num condomínio em Salvador, se mudara da Vila Militar, comprara essa casa num condomínio de classe média, e por diversas vezes se viu às voltas com a justiça, pois os condôminos, e na figura de José do Patrocínio, o síndico da época não aceitavam que ele mudasse as cores externas da casa, fugindo dos padrões, uma vez que as paredes foram pintadas de um verde escuro, e portas e janelas de amarelo intenso, e nas janelas e portas o desenho da bandeirada Bahia, e do Brasil, em alto relevo eram tipicamente marcantes.

 

Também as cercas vivas foram substituídas por cercas de madeiras pintadas nas cores verdes azuis e amarelas, e nelas os nomes das guerras, ou de grande marcos, como, Canudos, Dois Julho, Farroupilha, Revolta do Malês, Farrapos, Invasão Holandesa, e assim por diante.

 

E no alto do telhado tremulava uma bandeira, de uns 06 metros, e que era hasteada todos os dias com honras e grande esforço físico, e que servia de ponto de referência do Condomínio Parque das Flores, pois a quilômetros de distância a bandeira do Brasil era vista tremulando, sob o peso da sua indumentária, apesar do tecido ter sido escolhido a dedo.

 

João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, guardada as devidas proporções fazia lembrar Policarpo Quaresma, pelo seu desejo ardoroso de patriotismo. Policarpo Quaresma, cidadão que sempre valorizou e lutou pela cultura brasileira, chegando, inclusive, a defender que o tupi-guarani se tornasse o idioma oficial do país.

 

O mesmo chegou ao posto de General durante sua carreira militar, nunca viu ou participou de uma batalha, extremamente patriótico, e ufanista e nacionalista, era bajulador, João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, perdia nesse quesito, apenas bajulava a sua própria vontade e consciência, com fervorosas iniciativas de cada vez mais poder atender aos seus anseios de patriotismo, também era compulsivo, oportunista, não, não era como Quaresma, que fazia de tudo, com o fito de subir na vida, de dar-se bem. Não era pelego!

 

Ao contrário de Quaresma, João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, se debruçava sobre as coisas do Brasil, com zelo, com intenção única de preservar a sua história, sem o mínimo interesse de auferir vantagens pessoais, destarte, o móvel que os ligava de fato era o patriotismo.

 

João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, dedicou sua vida com patriotismo ilibado às coisas da Bahia, sua terra natal, e ao Brasil com distinção, respeito esmero, com incansável divulgação das coisas da sua terra, do seu povo, da sua gente, num esforço hercúleo, e às vezes, numa paixão inocente.

 

Para ele, 02 de Julho, no que diz respeito à Bahia, e 07 de Setembro, no que tange ao Brasil como um todo, é marcos, acontecimentos que todo brasileiro, tem que se orgulhar, e passar de geração a geração, contando essa história de superação e bravura.

 

No que relaciona-se ao Dois de Julho, a Independência da Bahia, ou a Independência do Brasil na Bahia, movimento iniciado em 19 de fevereiro de 1822, com culminância em 02 de julho de 1823, terminou pela inserção da então província na unidade nacional brasileira, consolidando a Independência do Brasil, grande feito histórico que todos os baianos e brasileiros de uma forma geral se orgulham, dessa forma não podemos deixar de exaltar os feitos e nem de honrar e homenagear, a Joana Angélica, Maria Quitéria, Maria Felipa, Corneteiro Lopes, José Joaquim De Lima e Silva, entre outros.

 

Também, não há como não enaltecer o espírito magistral do Corneteiro Lopes, estando a Bahia de General Labatut, sitiada, pelas tropas portuguesas, Lopes, ao receber ordens de tocar ”retirada”, o mesmo desobedece e altera o toque para, avançar cavalaria, a degolar, o que causou a fuga dos portugueses, que erradamente, pensaram que os baianos tiveram conseguido reforços. E assim se deu uma vitória espetacular digna dos anais.

 

No que se apresentam como narrativas memoráveis no que diz respeito a 07 de Setembro, processo histórico de separação entre Brasil e Portugal que se deu em setembro de 1822, quando do Brasil deixou de ser colônia de Portugal, passando a ser uma nova nação independente, um novo período cultural e econômico para o país, uma nação autônoma, onde a monarquia possibilitou o governo de 02 imperadores, D.Pedro I, e D. Pedro II.

 

Na Bahia, nomes como os de João de Deus, Lucas Dantas, Manuel Faustino. Luís Gonzaga das Virgens, entre outros, nessa tentativa revolucionária de mudar o Brasil, merecem todas as honrarias e aplausos, e seus feitos eternizados na memória do povo baiano e brasileiro.

 

João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, aos 92 anos de idade, se encontrava fragilizado, alcançado pelo mal de Parkinson, essa doença neurológica que afeta os movimentos da pessoa, causando-lhe tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita, e assim ele via-se impossibilitado de dar seguimento ao efetivo das suas as aspirações, como fizera por tantos anos com denodo.

 

As viagens se tornaram proibitivas algumas atividades que pediam certo esforço físico como o hasteamento da grande bandeira não podiam mais ser atendidas da mesma maneira, não conseguia se lembrar de com exatidão de certas datas, certos acontecimentos, entre muitos outros fatores, e isso o definhava mais do que a própria doença, desta forma ele ia encolhendo, e encolhia-se. E em quem pese o zelo incomensurável, da esposa, dos filhos, netos e bisnetos, que o cobria de atenções redobradas, de mimos, João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, ia se ausentando paulatinamente de tudo, demonstrando certa apatia pela vida, e isso não só incomodava como afligia a todos, que procuravam a todo custo minimizar esse estado emocional de indiferença.

 

Na madrugada de 02 de Julho, João José Manoel de Carvalho Silva Brasil, estava em agonia extrema, coração desenfreado, freios sem limites, um horizonte de infindas batalhas descortinavam-se diante dele, via-se, lutando ardorosamente na guerra de Canudos, na revolução Farroupilha, e ia de batalha em batalha, com espírito destemido, de guerreiro indomável, voluntarioso, lutando, lutando, tentando livrar a Bahia da invasão holandesa, ao mesmo tempo em que em Minas Gerais, auxiliava na Inconfidência Mineira, e ao mesmo tempo em que lutava na guerra do Paraguai, na guerra Cisplatina, na guerra dos Palmares, na guerra dos Emboabas, na guerra Guaranítica, na guerra Peninsular, e assim, ia vencendo as suas batalhas, derrotando os adversários, os inimigos da sua pátria, um a um, livrando o seu povo do julgo feroz dos inimigos da sua pátria.

 

Entendia Matheus (26:52;53), curvava-se a Jesus, mas, nesse momento, “quem com ferro fere com ferro será ferido", não era a lição, pois o fogo da liberdade tinha desejo de plenitude pela espada que lhe oprimia.

 

Estava ofegante, esbaforido, a alma em desalinho, orava, a fé era lâmpada acesa nessa alma em desconcerto, mas, vencia os caminhos agrestes, pastoris e escarpados, da vida, e lembrou-se dos sonhos que se espedaçaram batendo de frente nos rochedos de suas ilusões, e assim como, daqueles que foram luzes argênteas de amor, amizades, e tantas realizações festivas, e as lágrimas banhou-lhe o rosto marcado por essa geografia demarcada pelo tempo, e suas mãos pareciam que regiam uma orquestra, e não escondiam sua idade.  Reviveu as suas lembranças e as abraçou com carinho, e,  a paz festejava os êxtases tremulando as bandeiras do dever cumprido, e cumprimentava-o! Também, horas de discórdias, desacordos,  desentendimentos, indisposições, eram labaredas desses sons crepitados nos dias e nos momentos difíceis de sua vida, pois sabemos que os mares de rosas, se existem, são provisórios, porém, ele os contornavam com sabedoria, e renúncias, e deixava-se envolver pela paz de espírito, e pelos seus princípios.

 

Estava só, nessa derradeira batalha da sua vida, os pulmões reclamavam um esforço que ele não podia naquele momento despender, e o coração mandava avisos, porém a solidão daquele ocasião era mágica, e a melodia e lembranças de tempos idos..., abriam as asas sobre a sua infância, e viu-se brincando de picula, esconde-esconde com os amigos, com Aninha, o primeiro amor de sua vida, amor platônico. Viu e ouviu a voz abençoada da sua mãe, cantarolando para ele dormir, chorou agora lágrimas de bênçãos santificadas pela proteção daquele amor incondicional, insubstituível, inigualável, seu coração em que pese as dificuldades físicas, mas no que tange à emoção, quedou-se genuflexo e agradeceu a Deus, por essa dádiva em sua vida, e por sermos seres espirituais passando por uma experiência humana,sublimou com resignação incomum a extrema inquietação, e despiu o que ainda tinha sobre si de vaidades, olhos fechados meditou comtemplativamente, e excelsos pensamentos sobrevoaram sua existência anunciando o porvir.

 

Todavia, benesse derradeira ainda lhe proporcionaria mais uma glória, chegou triunfante a 07 de Setembro, quando proclamou a independência do Brasil, juntamente com Pedro Alcântara, D. Pedro I, no célebre grito, de Independência ou Morte, cujos pincéis de Pedro Américo, esculpiram na tela da representação da sagrada  ventura.

 

Ainda viu-se, lutando na Primeira Guerra Mundial e também na Segunda, transpirava, falava consigo mesmo, esses delírios não eram uma confusão mental, apesar da sua consciência navegar entre sonhos, entre fantasias e entre quimeras, e com os olhos marejados viu os filmes da sua vida, viu a seu pai, viu a sua mãe, sorriu, improvisou um monólogo, e comovido agradecedu, e enquanto todos dormiam, continuava a sua saga, prosseguia manejando as suas armas de guerra, e convenceu o corneteiro Lopes, a deixá-lo tocar a corneta da vitória, e o fez extremamente emocionado, vencendo os inimigos, e venceu a todos, e venceu a si mesmo, nesse banquete divino, da alma, e depôs as suas armas, às 6h30mim, na derradeira manhã de 02 de Julho, e como num passe de mágica, a sua bandeira tremulava, lá do alto do telhado.

 

Logo, deu-se início aos preparativos, e às honras militares, venceu sua última batalha, o eco da sua voz pairava no ar, todos pareciam ouvi-lo no doce barulho que vinha da chuva, algumas aves deambulavam, o vento dialogava com voz calma e cerimoniosa, parecia falar com as folhas que nas árvores balançavam-se e acenavam, e os galhos, mãos voltadas para o céu, pareciam que estavam todos em preces. A voz do silêncio em alguns instantes eram versos declamados no altar sagrado da comunhão suprema, e nas homenagens de cada qual, a música, o Toque de Silêncio, o Réqueim de Mozart, deixavam jorrar os seus acordes pelas flautas, pelos trompetes dos oficiais do exército, inebriando as almas, com acenos de adeus, e sentimentos de saudade, e emoção.

 

Fechou-se um ciclo, as estações seguiram o seu curso, as águas dos mares e dos rios continuaram indo e vindo e se deitaram sobre a terra, as flores quedaram-se, porém continuaram emprestando seu perfume, e oferecendo seu sorriso, o nascer do Sol deu-se invariavelmente, como todos os dias, assim como o crepúsculo, esse derramar dessa claridade entre seu ocaso e a noite, e propiciara o surgir das estrelas, como faz todas as noites, e uma garoa sem cerimônias eram bálsamos, orvalhos,lágrimas!

 

Todavia, as lembranças, serão eternas glórias, serão eternos festejos de agradecimentos, e perpetuar-se-á pelo modelo e pelo exemplo, pela dignidade, pelo brilhantismo pelo caráter incomum, cumpriu sua jornada, dirigiu-se a outra esfera, não sei se é o céu, o destino, mas sei que daqui saiu com o dever em dia, a missão foi posta à mesa, e ele serviu-se, e serviu do banquete a todos com honrarias e distinção, principalmente aos mais miseráveis, àqueles cuja sociedade coloca os tapumes da insensibilidade, entra ela e eles, e os deixam entregues à própria sorte.

 

Patriotismo é sentimento de amor e de orgulho, devoção, é ser solidário consigo e com seus compatriotas, é desfraldar as bandeiras da comunhão e dos princípios.

 

Hoje, porém temos descido as ladeiras das inversões de valores, e patriota e herói, tem sido fábulas.

Albérico Silva