O GAROTO QUE TINHA DEMAIS

Ele era o cara mais popular da escola.

E também o mais gato.

O mais gostoso.

O melhor jogador de futebol.

Namorava a guria mais bonita da turma (eu morria de inveja dela).

Tirava as melhores notas.

O seu grupo de amigos era o mais descolado.

Os pais eram bem sucedidos e com excelentes empregos. Ou seja, a faculdade dele estava garantida. Nunca precisaria se preocupar com os valores da mensalidade. Certo que ele iria se formar na melhor universidade.

Nossa. Que sorte ele tinha. Eu queria ser a namorada dele. Talvez sua sorte respingasse um pouco em mim. Porém, eu era tão patinho feio que o André nunca se deu ao trabalho de olhar para minha cara. Até acho que ele nunca soube, sequer, que eu existia.

Um dia acordei com a notícia que o André tinha morrido.

Oi? Como assim?

Se atirou do 10º andar do prédio em que morava.

Choquei. Todo mundo chorou. Ninguém compreendeu.

Anos depois, eu já mais velha e adulta, acho que consegui entender o motivo daquela morte tão estúpida.

André possuía demais.

Para ele tudo era fácil demais.

Ele, André, nunca precisou lutar por nada.

Sempre lhe deram tudo.

Mas, para ele, o "tudo" nunca fora o bastante.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 13/05/2022
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