O Pombo
Havia um pombo na calçada, um bem gordo e robusto, que eu tinha alimentado com um salgadinho de queijo e presunto. Entre todos os pombos - dês de um esmirradinho com a pata faltando, a outro com mancha branca na cauda – aquele pombo se destacava. O mais pomposo entre eles e o mais exibido.
Um peito e uma coxa daquela ave alimentariam uma nação inteira. O pássaro brincava entre seus rivais, disputando um pedaço daquele salgado. Nessa batalha feroz pela massa carregada de gordura saturada, o pombo de personalidade forte saíra vitorioso, ganhando sua disputa.
Apeguei-me ao pombinho guerreiro e acabei por mimá-lo com mais um pedaço de salgado de procedência duvidosa. Tudo se passava tranquilamente: eu alimentando aqueles ratos com asas, as pessoas caminhando pela praça, até que meu pombo favorito resolve caminhar para o meio da rua, enquanto se aproximava um carro passante. Foram os segundos mais tensos da vida daquele pobre animal, desviou de um carro, mas foi em direção a outro... Ótimo! Um pombo com tendências suicidas! Cadê a patrulha do setembro amarelo?
Apreensiva, tento afastar o pombo do caminho. Por sorte ele volta para a calçada. Pobre pombo! Havia ficado com pena, acabei dando mais um pedaço de salgado para ele.
Daí, o inacreditável aconteceu: Do bueiro a céu aberto que estava na calçada, saiu uma ratazana. Mordiscou a ave, depois, com mais afinco, como se fossem gladiadores, lutaram. O rato agarrou o pescoço do pombo, arrastando-o para as profundezas do esgoto.
Boquiaberta e tentando processar a informação, mordi meu salgado. O mundo é complicado até para pombos!