Entre Pernas e Pães

Vou pegar o dinheiro e comprar pão... Diz Marcos que se levanta do sofá. E com essa dor na perna? Eu não sei para quê eu fui inventar de correr pra ver aquele programa de fofoca, acabei foi é batendo a coxa na quina da mesa e agora estou mancando!

Lá vou eu ter que pegar uma baita de uma ladeira e mais agora de tardezinha...Caminhando lentamente alisando a perna, Marcos vira a esquina e pega a rua principal íngreme que dá para a padaria. E nesse mister de caminhada e ladainha ele vê Ritinha, moça que Marcos sempre desejou, colocando o lixo na calçada, mas devido a sua vergonha e a sua falta de tempo por causa do trabalho nunca o deixara se aproximar dela. Ah! Como ela está linda naquele shortinho branco! Marcos a devora com olhar...E pensa inúmeras coisas que poderiam ser feitas com aquela moça se estivessem a sós...Mas tem que comprar o pão! A barriga tá roncando! Mas que droga! Ah programa besta! Ah programa desgraçado!

Continuando a luta, Marcos vê uma coisa estranha: Uma casa toda pintada de verde-limão, com o muro laranja e o portão roxo, era a casa da excêntrica Dona Matilde, a Madame do bairro. Uma empresária de ônibus coletivos da cidade. Inclusive ela sai com seu carro do último ano da garagem (Mal sabe Marcos que ela andará em direção a padaria) e nessa saída encontra Dona Verinha a sua vizinha boa e velha puxa-saco de Dona Matilde...

Normalmente as pessoas que são ricas se relacionam com dois tipos de pessoas: Os invejosos ou os puxa-sacos. Dona Verinha escolheu a segunda opção. Nossa Matilde! Como sua casa está linda! Adorei as cores que colocaste! Extremamente artístico! Extremamente moderno! Diz ela encostada a porta do carro. Eita! Como existem pessoas que fazem de tudo para aparecer e pensando que vão ganhar algo com isso! Até falar bem de uma casa que parece a lona de um circo!

Dona Matilde sai e Marcos a vê indo a direção à padaria! Ah danada! Nem carona a um vizinho dá! Ah programa besta! Ah programa desgraçado! E continua a alisar a perna e a caminhar...

Nisso, ele vê Gabriel seu antigo colega da faculdade passando de carro. Ei Gabriel! Gabriel! Nem parou! Será que ele reconheceu? Ou não? Acho que está com muita pressa! Parece que ele ganhou um bom emprego...Sei não! É cada uma que acontece! Ô sacrifício para comprar um pão!

E nesse suplício contínuo ele passa por uma casa bem simples que há certos tempos foi arrombada pela Polícia Federal que agora está trancada e com o portão amassado. Era um grupo de jovens hackers que habitaram-na. Ganharam muito dinheiro com roubos de bancos! E com isso eles começaram a ganhar fama pelo lugar, tinham muitas fotos exibindo dinheiro, tinha até uma em que eles queimavam dinheiro! Pobres coitados! Quem confia demais na sua inteligência acaba sendo por ela ignorante!

Aleluia! Cheguei! Finalmente a padaria! Aí minha perna! Ah programa besta! Ah programa desgraçado! Mas Marcos percebe que a fila da compra do pão é enorme! E no alto da rua, ele vê o crepúsculo pintando o céu em várias cores anunciando a chegada da noite...

Sabe de uma coisa? Vou comer bolacha em casa! Pão engorda muito! Pelo menos para baixo todo o santo ajuda! Minha perna não dói tanto.

Nisso Marcos começa a descer a rua e encontra a Ritinha subindo a rua para comprar o pão...