Saudades, Mamãe!
08.05.22 – Dia das Mães
Gostaria de ter escrito um texto alegre, mas a saudade não deixou.
Este dia das mães será o primeiro sem a minha mãe. Parece não ter mais significado para mim esta data.
Mas, era especial para minha irmã e eu na nossa infância e juventude. Almoçávamos em família e meu pai sempre a presenteava. Nós dois fazíamos na escola cartas, desenhos e cartazes para ela. Feliz, nos dava o seu lindo sorriso de dentes perfeitos como os de uma artista de cinema. Era muito bonita e lembro-me do seu cabelo liso e negro puxado para trás em coque, ficava linda. Era uma artista para mim, sim!
Mulher firme e decidida foi quem nos deu o rumo, o norte nas nossas vidas e na do meu pai. O esteio da família. Sem ela, parece que perdemos o nosso referencial. Ela faz falta, muita falta!
Amava-a muito, apesar do nosso amor não se transfigurar em contato físico, não era de beijos e abraços. Foi educada na rígida e fria cultura alemã e francesa, sem poder manifestar atitudes de carinho, pois eram sinais de fraqueza. O fazia com os animais que trazia da rua para casa quando menina, compensando com eles a sua afetividade tolhida.
Na época em que morei com ela, já com a idade avançada, ao ir se deitar para dormir vinha ao meu quarto e pedia-me um beijo de despedida, pois não queria morrer sem ele, e ao lhe dar, falava-me:
-E um “segredão”! – sua forma de dizer que me amava.
Na nossa despedida final ao ser cremada, dei-lhe uma rosa vermelha e um bilhete escrito que o nosso “segredão” agora era eterno. E beijei-a pela última vez!
Minha irmã conviveu com ela nos seus últimos anos de vida em relacionamento conflitivo, ela não era fácil no trato. Ia vê-la todos os dias na casa de saúde. Hoje, sente muita falta daqueles momentos de discussão, pois era a forma como se relacionavam. Mas tiveram também muitos de amor e carinho. O amor entre mãe e filho é inquestionável.
Quando a visitava no asilo na cidade na qual mora minha irmã , dizia-me longe dela brincalhona:
-Tua irmã ainda não cortou o cordão umbilical!
Seu humor era ferino, mas alegre e passamos momentos felizes que permanecerão na lembrança para sempre.
Nossas vidas seguem. Outras vêm para nos confortar, alegrar e alentar - os netos, com a sua delicada fragilidade e puro encanto, pois é a vida um inquestionável e maravilhoso mistério. Como a morte, com a questão do que será de nós depois – a busca da nossa existência!
Estamos órfãos agora na velhice. Viver é difícil! Mais ainda é aceitar a morte. E ela vem chegando mais perto a cada dia.
Recebi, no começo da semana passada, a notícia do falecimento da grande amiga e companheira inseparável da minha mãe na casa de saúde, bem mais jovem - sofria de doença degenerativa. Era muito querida e gostávamos muito dela. Fiquei triste pela perda, escrevendo este texto emotivo de desabafo.
-Saudades, Mamãe!