TARDE DEMAIS 31 – SEPARAÇÃO
Conto de Gustavo do Carmo
Durante cinco anos, Adamastor prometeu para Verlaine que iria se separar da sua esposa. Ele não pôde pedir o divórcio assim que assumiu o seu caso amoroso porque precisava resolver algumas pendências profissionais, matrimoniais e familiares.
Além de Adamastor trabalhar na empresa do pai de Dora, sua esposa, ele precisava discutir a divisão de bens, preparar os filhos pré-adolescentes e... faltava-lhe coragem também.
Verlaine era jornalista de televisão e conheceu Adamastor ao entrevistá-lo para uma matéria sobre imposto de renda. Ele era contador.
Sem querer, Adamastor acabou enrolando Verlaine. Sem querer, Verlaine acabou aceitando o papel de amante. Até que os três lados se cansaram.
Verlaine de ser amante e só poder contar com o amado nas noites de quarta-feira e sábado. Dora das ausências repentinas do marido nestes dias. E o próprio Adamastor, que não tinha mais prazer com Dora, não aguentava mais mentir para o sogro e queria se casar logo com Verlaine.
A primeira a dar um ultimato foi Verlaine: ou ele pedia o divórcio à esposa ou o romance estava acabado. Adamastor obedeceu e, antes de comunicar à esposa que tinha outra mulher e queria se casar de novo, pediu demissão ao sogro. Ia comunicar à esposa, mas foi tarde demais. Ela descobriu tudo e o expulsou de casa.
Na partilha de bens, ficou quase na miséria. Perdeu a confiança dos filhos e também dos sogros. O sogro, que o empregara, não aceitou simplesmente a demissão. Indignado e tomando as dores da filha, deu uma justa causa, mesmo. Havia sido o primeiro saber que o genro tinha uma amante.
Quando Adamastor, enfim, estava livre para morar com Verlaine e assumir a relação, ela lhe comunicou que estava noiva de um empresário paulista e ia morar em São Paulo. A separação veio tarde demais.