O BRACELETE DE PRATA

Da força do mar...às mãos da mãeTerra...

Numa dessas compulsões femininas para o belo-mas supérfulo- eu o adquiri há quinze anos atrás, quando cintilava seu brilho, reinando numa vitrine, entre peças prateadas de Bali.

Era delicado, pouco menos que um centrímetro de largura, e exibia finos desenhos esculturados na prata de lei, peixinhos delicados e enfileirados que nadavam entre ondas marítimas, e que mais pareciam desenhos rupestres.

Pouco o usei.

Certa vez, retirei-o de sua caixinha, e o coloquei no braço, rumo ao litoral.

Já que a prata não se oxidava, tive a deselegante idéia de me adornar para uma caminhada pela praia de CABO FRIO.

Senti que os peixinhos adoraram.Afinal, sairiam do bracelete para o seu habitat natural.

E foi o que aconteceu.

Inciei minha caminhada pela orla do mar, numa praia inclinada a mais ou menos quarenta e cinco graus. Era difícil se equilibrar alí, porque além da inclinação intensa, a areia era grossa, pesada, e as ondas quebravam-se violentamente.

De repente uma delas me tombou e carregou meu bracelete, posto que era um modelo que apenas se encaixava no braço, sem travas.

Não acreditei! Em fração de segundos, num ato muito descuidado, mergulhei mar adentro, apalpando o seu solo, quando bati com os dedos em algo metálico e já profundamente enterrado.Cavei rapidamente a areia...e eram eles!

Meu bracelete e meus peixinhos milagrosamente resgatados do mar.

Lembrei-me do MILAGRE DOS PEIXES e fiquei impressionada com a velocidade com que o mar devora o que arrebata com as mãos.

Recoloquei-o no antebraço oposto às ondas, sob o barulhento protesto dos peixes.

Quando retornei, guardei-os na mesma caixinha.

Nesta semana, após oito anos do episódio, usei-o novamente.

Não tardou muito e novamente dei pela falta do bracelete.

Procurei-o pelo quatro cantos da cidade, voltei a muitos lugares na esperança de o reencontrar, pois o mais difícil eu já conseguira...resgatá-lo da força do mar!

Que nada!

Aqui nesse mundo nada nos pertence. Somos apenas posseiros passageiros e inadvertidos das coisas da TERRA.

Consolei-me...afinal,a prata e os peixinhos...voltaram às suas casas...

(Verídico)