O preço de uma palavra amiga

Pietro tinha lá suas marcas de infância. Marca que nunca o deixou em paz. Seguiu o da infância à adolescência. Era uma marca abusada. O simples defeito que era por seus pais somente no corpo físico, Pietro sentia que ia muito mais além, ia à alma e a um vestígio ruim por onde passava.

Cansava de ouvir da mãe que aquilo com o tempo haveria de passar. Era fase da vida e nada mais. Tinha vergonha de brincar com os amigos na rua, pois no intervalo das suas brincadeiras, sempre surgia a chacota de pena de pau, pinóquio, saracura ou patinho feio; mas o pior era a forte barreira causada quando o seu desejo era de ser correspondido por alguma das meninas da rua.

A resposta nem sempre vinha pela boca, mas a de um olhar desdenhoso, nojento e repreensor sempre que os amigos lançavam a sua sorte a uma das meninas da rua.

As palavras e olhares se tornavam sinônimos. Eram “sai pra lá” nas palavras ou nas sobrancelhas desprezadoras sob um gesto opressor. Aos que estavam em roda, caçoavam da vítima. Algo que o entristecia. Cada vez que aquilo acontecia, descobria que jamais poderia ser feliz ou quem sabe mais tarde, ter uma companheira do lado.

Em alguns momentos, ele se retrucava, até em baixos calões. Algo que não funcionava, ao contrário, atiçava fogo em suas defesas. Sem opção, sempre partida da roda, deixando de concluir as poucas horas restadas. Tinha vezes que ficava de dois ou três dias sem brincar com a garotada da rua. Emburrava-se no quarto, evitando-se olhar no espelho a feiura do corpo que sempre ouvia dos colegas.

Aquilo o abatia. Perguntava a si próprio ou ao espelho: o porquê daquilo? Por que justo ele ser o mais desprovido da casa e da galera da rua? Não obtinha resposta. A tristeza só aumentava.

No período escolar, aquilo se dobrava, pois sentia que o número de julgadores a sua terrível ferida de alma só o torturava de vez.

Nas escondidas chorava e sentia que a cada dia, a tristeza e o complexo de inferioridade fazia parte da vida. Não era uma companhia desejável. Era tão cruel!

O tempo passou, sentiu no dever de não sonhar muito, pois enxergava que o povo tinha razão do que falava a seu respeito.

Os dezesseis anos chegou, a canela fina, o rosto da feição do sofrimento, a sobrancelha enorme, o desprazer pela vida o conformava com a zona do conformismo. Quem sabe assim não sofreria menos de tudo o que já teria sofrido na infância e adolescência!

Sentiu a necessidade de se excluir dos possíveis amigos que haveria de aparecer. Andava mais a sós. Era calado e quase conformado com o mundo oferecido.

Viu que com o passar do tempo as promessas da mãe; nada mudou. Sentiu ser tudo mentira.

Percebeu que a cada dia, a sua vida era bem diferente dos colegas e amigos.

A professora Camila necessitou intervir. Professora desde o sexto ano do ensino fundamental, notou que já no segundo ano do ensino médio, a fisionomia do menino tristonho e sem esperança ainda estampara sobre ele.

Chegou de mansinho e bem mansinho, deu de professora atenciosa à sala, mas o intuito era de aproximar-se dele e conscientizá-lo do verdadeiro valor a si próprio.

Pietro sentiu na professora algo jamais oferecido por alguém. Enxergou que ela não se importava com a feiura dele ou muito menos com a sua falta de atratividade.

Falou de sonho, futuro e a importância de viver. A importância de o que vale na vida é o respeito e a simpatia ao próximo.

Palavras que com o passar do tempo foi semeando e gerando vida dentro de si.

Pietro pouco a pouco foi se soltando. Criou amizades e procurou oferecer de tudo aquilo que desejava receber dos amigos. De todas as aprendizagens amargas da vida, descobriu jamais oferecer daquilo que o sempre magoou. Descobriu que a professora tinha razão: respeitar o próximo e jamais oferecer daquilo que não nos faz bem; também é essencial.

Percebeu que a feiura já não era mais o empecilho de sua vida. Os verdadeiros amigos já não o olhavam mais como antes.

Descobriu de ter o privilégio de trabalhar e através disto conquistar as coisas almejadas ou até mesmo sonhadas desde criança das quais os pais nunca puderam lhe dar.

Levou aos “pés das letras” os conselhos da professora Camila mediante as aulas da Educação Financeira, jamais gastar cem por cento do que ganha, mas poupar uma parte para se investir no futuro. Descobriu que sempre gastando menos do que ganhava, poderia ajudar de alguma forma financeiramente os pais, noutra parte do salário, cuidar um pouco da sua aparência: algo que sempre lhe deu dor de cabeça pelos bullying da infância.

Mudou aos poucos o visual, frequentou a academia, mudou a alimentação dentro do possível e as críticas do povo positivamente ia lhe demonstrando a mudança da qual sempre desejou. Descobriu a importância da fé e otimismo. Descobriu a importância de se valorizar e respeitar o próximo mediante daquilo que não desejamos para nós.

Com o passar do tempo descobriu o grande risco que se colocou muitas vezes pensando em até em se matar e agora aos dezesseis anos em diante sentiu na pele a importância de viver e desfrutar daquilo que honestamente semeamos.