Dentes de Jacaré
09.04.22
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Fiquei atônito com o inusitado que vi em um dia que caminhava até o centro da cidade de Florianópolis. Ia ao dentista, pois caíra mais uma vez uma ponte fixa que tenho e do lado da boca que consigo mastigar – meus velhos dentes são um problema agora.
Ao chegar à ponte sobre um riacho de água terrosa, olhei para baixo e vi um bando de jacarés folgadamente submersos nele. Detalhe: esse veio d’água lamacento está em manguezal de área de proteção ambiental e cruza toda à frente do Shopping Center mais chique da cidade. Inacreditável!
Parei chocado com a cena. Cerca de dez deles se deleitavam tranquilamente parados na quase lama. Eram grandes, com um metro e meio a dois metros de comprimento. E criados. Um perigo!
Alguns, deitados na margem do córrego, se aqueciam calmos e estáticos. Os na água, ao me verem, começaram a me encarar com os seus olhos enormes como bolas de gude. Um deles moveu levemente o seu rabo, começando a nadar em minha direção. Aterrorizante a cena!
Olhando-os da amurada da pontinha, pensei se caso alguém caísse naquele córrego, ou um animal inadvertidamente passasse por ali, pois naquele trecho do lamaçal não havia cerca ou qualquer barreira ao acesso, seriam trucidados pelos répteis com suas mordidas fabulosas. É um absurdo não ter nenhuma placa ou informação de que naquele local há jacarés. Um absurdo mesmo!
Saquei o meu celular e tirei algumas fotos, enviando-as para um grupo de amigos. Recebi inúmeras mensagens de espanto, pois também achavam inacreditável haver esses bichos soltos tão perto de área urbana, e nobre. Sim, inacreditável!
Ao fotografá-los, mantiveram a pose, imponentes no seu pouco caso com a civilização moderna tão próxima, pois têm mais de milhões de anos de existência e sobrevivido a todos os eventos catastróficos ocorridos em nosso planeta até hoje. São pré-históricos e podem ser arrogantes.
Despedi-me deles e segui ao dentista, cuidar dos meus sofridos dentes. Pensei no caminho nos dos jacarés, que trituram qualquer coisa com a sua mordida portentosa. Eu não mais, pois um simples amendoim pode quebrar os meus frágeis e cansados dentes.
Que bom seria se pudéssemos ter os dentes dos jacarés, não?