O CACHORRO DE ADRIANA

 

 

A casa da frente era de Dona Mercedes, a dos fundos, de sua filha Nilza, que ali vivia com o marido e a menina Adriana. Entre as duas casas havia outra, pequena e de madeira, que Dona Mercedes alugava para complementar a renda. Todas tinham entradas independentes por meio de um corredor com portão para a rua. Adriana era filha única e muito mimada.

 

Nós morávamos em um apartamento de segundo andar em um prédio ao lado dessas casas e tínhamos vista privilegiada para todos esses imóveis, por estarmos em plano mais alto.

 

Quando Adriana completou 12 anos, ganhou de presente um filhote de cachorro de cor preta. O pátio em frente à sua casa era bem pequeno e todo ladrilhado. Ali ficava o cão, tendo uma casinha de madeira a um canto. O animal foi crescendo e tornou-se um cachorro grande, que latia de noite e de dia. Tornou-se um problema para nós. Celso, meu marido, havia sofrido um acidente na Academia Militar, quando um colega deixou cair uma mina, que explodiu relativamente perto dele e de outros colegas, causando mortes e limitações físicas. Celso, ficou surdo de um ouvido e recebeu muitos estilhaços pelo corpo. Felizmente, sobreviveu sem  sequelas mais graves. Usava aparelho para surdez e os latidos do cão o incomodavam sobremaneira. Mas não havia muito o que fazer pois os vizinhos eram loucos pelo animal.

 

Um domingo, vimos no jornal O Estado de São Paulo, o anúncio de um aparelho elétrico que emitia sons em frequência que, dizia a propaganda, era capaz de impedir um cachorro de latir. Meu marido, então, encomendou o aparelho que chegou pelo correio e foi imediatamente instalado no parapeito de nossa janela da sala, defronte ao pátio da casa vizinha. Quando ligávamos a engenhoca, o cão gania baixinho e se isolava dentro da casinha. Deu resultado porém, certamente, infligia sofrimento ao animal. Celso não se comoveu.

 

Adriana era tão ladina que, quando a mãe pedia que limpasse o pátio, ela recolhia os dejetos em uma pequena pá e os jogava, por sobre o muro, no terreno da casa do meio, onde morava o inquilino de sua avó. Certa vez, nossa diarista limpava as vidraças e viu Adriana cometendo esse pequeno delito. Chamou-lhe a atenção, dizendo que o vizinho ficaria furioso. Ela sorriu, maliciosamente, colocou o dedo indicador sobre os lábios e apenas fez:

 

Shshshsh! Não conte para ninguém!

 

Nosso problema com o cão só foi definitivamente resolvido quando mudamos de endereço.

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 07/04/2022
Reeditado em 14/02/2023
Código do texto: T7490298
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.