A CRIANÇA DO UMBUZEIRO
Aquela criança de quase três anos, sozinha sentada embaixo de um umbuzeiro, no grande quintal de casa, só teve a sua ausência percebida, e por isso foi alí encontrada, após cessar o burburinho que dominava o seu lar.
O seu irmãozinho lindo logo completaria um ano de vida. De cabelo loiro com cachos, olhos azuis, sorridente, ele ia para os braços de quem o chamava. Deveria ser um companheiro muito querido, com quem certamente ela brincava sempre. "A alegria da casa", como relembrava a sua avó paterna ao falar dele.
Saudável, mas no período de 24 horas, apesar de todos os cuidados médicos, uma bactéria no seu intestino encerrou a sua jornada na terra.
Desespero dos pais, da família, uma tristeza que se tornou uma saudade eterna e o conforto induzido por amigos:
" - Deus o escolheu por ser a flor mais bonita dos jardins daquela cidade, naquele dia. É comum oferecer-se a um amigo a flor admirada por ele."
Após as despedidas indispensáveis e a volta à realidade, não encontravam a pequena irmã...
Descobriram-na quieta, sentada à sombra do umbuzeiro, no meio do quintal.
O que sentiu aquela criança de pouco mais de dois anos?
O que ficou registrado daquele dia na sua memória física e afetiva, ao longo da sua vida, até a fase adulta?
Não imagino, objetivamente, mas acredito que tiraram dela um pouco da sua alegria por um bom tempo.
Ela não aprendeu a nadar nas águas das inúmeras lembranças infantis, especialmente as despedidas, sem que uma pausa inesperada da respiração cause um movimento em busca de ar puro para conseguir leveza.
Esta e a criança feliz, brincalhona, peralta, convivem na pessoa adulta que se tornou, equilibrando os sentimentos, pois ambas são indissociáveis.
A fé, a confiança e o amor à vida também cresceram, junto com as memórias de criança, fortalecendo-a para os embates, sem nunca desistir de lutar.
Dalva da Trindade S Oliveira
(Dalva Trindade)
26.03.2022