TODO DOMINGO
Todo domingo era aquela festa. Dia de acordar cedo e ir na cidade fazer feira. Entulhado no Escort eu, meu irmão, meu avô, o pai e a mãe. Era sair do carro cada um tinha seu destino. Mainha e o mano iam para as barracas, vô e o pai para a padaria, comigo atrás. Já na porta o mesmo mendigo nos esperava. Enquanto eu e vô comiamos na bancada, meu pai pedia dois pingados, dois pãezinhos na chapa, pegava tudo e sentava na porta da padaria e dividia com o mendigo. De dentro eu via eles conversando e rindo, sempre terminando com meu pai dando um tapa nas costas dele e mandando ele ir pela sombra e aquele pobre bebum repetindo: Deus abençoe "seu" Carlos.
Ele vinha até nós com um sorriso no rosto, pedia outro pingado e tomava com a gente enquanto "seu" Manoel reclamava que: esses pedintes espantavam a freguesia.
- Ah Portuga, cê só reclama. Deixa o da chapa e o pingado dele de amanhã na conta que eu tô deixando pago.
Essa cena se repetia todo domingo. E se repete na minha cabeça toda vez que eu penso em humildade...
#microcontofatimaflorentino