Uma Intimação Ao Papai
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Naquele tempo não havia a exigência do bacharelado em direito, para o ofício de delegado.
A graduação, o letramento, não era tudo; se o candidato fosse destemido ajudava, mas o quesito forte era ser pessoa de bem.
Seu João aceitou o convite a este cargo e dentre as suas ações, à frente da delegacia de minha cidade fora uma intimação ao meu pai.
— Houve, anteriormente, uma discussão dos dois (de papai e o seu João). Até presenciei este embate, mas nem soube a causa do atrito.
Dias depois do bate-boca, estava á venda do seu Natã um policial fardado, em serviço, com a dita intimação a ele.
Até hoje é assim: o não comparecimento do intimado à delegacia, é configurado crime de desobediência .
O pai como ex-subdelegado devia saber disso...
Desceu os óculos da testa e leu a intimação calmamente. Após a leitura, a devolveu ao soldado, com uma recomendação:
— Leve-a de volta ao delegado e, diga a ele que não posso atendê-lo: não irei. Lá, eu perderei a minha razão: só terei o direito de ficar calado; se ele tiver algo a me dizer, que volte aqui e me diga.
Diante disto, o guarda voltou por cima do rastro a levar consigo os ditos do intimado, ao delegado.
Seu João deve ter pensado, pensado… e falado a si mesmo: tem jeito pra esse home não. Pois, não é que ele está certo!
— Encerrou a questão (não levando adiante seu intento).
Nesse caso, a desobediência do intimado e o arquivamento do caso, evitou o pior…
O estresse do velho comerciante (pela possibilidade de ouvir poucas e boas, calado sem poder retrucar a autoridade)...
E uma possível prisão-injusta (o que o acarretaria numa desonra, a carrega-la pela vida inteira).
* Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.
(18:03:20)