UMA HISTÓRIA QUE PODERIA SER DIFERENTE
Naquele auditório lotado, em que aplausos celebravam a conquista profissional de Paulo, um jovem de 30 anos que recebia os méritos por desenvolver um sistema que revolucionaria a organização de RH da empresa em que trabalhava, uma lágrima insistia em molhar seu rosto. Na mente de Paulo a lembrança de um determinado dia em que uma convocação a sala do seu, então, chefe mudaria para sempre sua vida. A realidade de então era outra, Paulo era, quase, um menino de 18 anos, rebelde, sem limites, com uma visão limitada de um mundo imaginário em que as ideologias dos grupos da faculdade eram a base dos confrontos. Os Patrões eram, na ocasião, os novos feitores feudais a serviço da exploração das classes dominantes e, portanto, vistos como inimigos das classes... Mas, num instante o convite... Ou melhor, a convocação.
- Pode entrar - Ouviu depois de bater na porta de vidro.
- Pois não - Disse assim que entrou na sala e se deparou com "seu" Moreira, um senhor de meia idade. O dono da, modesta, empresa de informática. Primeiro emprego de Paulo.
- Pode sentar - Respondeu Moreira apontando para a cadeira.
- Estou bem.
Moreira então pegou uma pasta com vários documentos e jogou sobre a mesa.
- Paulo, aqui está todo o balanço financeiro dos últimos seis meses - Rapidamente pegou uma outra pasta e lançou sobre a outra...
- Agora aqui está a verdade. Estranhei os últimos números e decidi investigar com mais cuidado. Há uma diferença de 30% no faturamento. Conforme você pode verificar os dados são divergentes e as alterações encontradas foram feitas no seu computador, em dias e horas que você estava trabalhando e o destino do dinheiro uma conta de uma pessoa do seu relacionamento.
Paulo assustado, tentou:
- Posso explicar...
- Não, não pode. Você está demitido...
- Demitido? mas...
- Sim, demitido. Não tenho como te manter trabalhando comigo sem confiar, mas reconheço em você um talento que além das ideologias, dos constantes atrasos, dos discursos e do comportamento marginal, um profissional como poucos que pode ter um futuro promissor. Por isso não chamei a polícia. Estou te demitindo, mas te dando uma chance de construir uma vida. Pegue suas coisas e vá embora para nunca mais voltar.
Moreira apontou a porta e virou as costas para Paulo, que em silêncio, baixou a cabeça e se foi.
Em meio aquelas lembranças, ouviu quando seu nome foi chamado para receber o prêmio de profissional do ano. Sorriu entre lágrimas, enquanto caminhava para o púlpito. Sussurrava um "Muito obrigado" para os presentes, enquanto vencia o tempo em recordações de uma inesperada e imerecida oportunidade que mudou o curso de sua vida.