PRAÇA SANTOS ANDRADE

As brigas entre os alunos do Santa Maria tinham ringue e plateia na Santos Andrade, bem ao lado do colégio. Aconteciam após o término das aulas. A notícia dos confrontos se espalhava rapidamente: _”Im-per-dí-vel... hoje fulano e beltrano vão se pegar!!!”, e lá ia todo mundo pra assistir a luta na praça. Os irmãos maristas torciam o nariz, mas nada podiam fazer porque sua autoridade escorria pelos portões de saída mas escoava na boca de lobo junto ao meio-fio da esquina. Lá dentro do colégio era outra história, e ai de quem ultrapassasse os limites. Não podia fumar, nem brigar, nem se comportar indecentemente. Quase morríamos do coração quando fumávamos escondido nas latrinas, entrando em bandos de dez ou mais, e o máximo de sacanagem que fazíamos era chutar o traseiro de quem fazia pipi nas dezenas de mictórios sem portas situados ao lado da cantina.

Mas para mim, a Santos Andrade não foi importante somente no período escolar, porque alguns anos mais tarde a minha namorada (hoje minha mulher) estudava Filosofia na Universidade Católica - curso lecionado dentro do Colégio Santa Maria. Então, eu gazeava sem constrangimento ou culpa algumas das aulas chatas do curso de Engenharia, pegava o ônibus azul do Politécnico até a Santos Andrade, e todo faceiro ia dar um atrevido tchauzinho pra ela, pelo vidro da porta da sala de aula. Quando o professor se distraía ou virava pra escrever no quadro-negro, ela escapulia ligeira e íamos namorar lá na praça.

Meu sogro tinha um crédito no Hotel Mabu por serviços prestados, e foi ali que resolvemos noivar. Promovemos um jantar para os parentes e amigos. No meio da festa, Neide e eu demos uma fugidinha pra sentar um pouco no nosso banco lá da praça e colocar reluzentes alianças em nossas mãos direitas.

Ainda hoje, quando passo no centro de Curitiba, procuro contemplar a Santos Andrade, e todas essas memórias e outras mais são avivadas em meu coração.

É uma praça admirável, com pinheiros seculares, muitas árvores frondosas e uma agradável fonte central de harmoniosos repuxos. Apresenta o top dos tops: duas das mais importantes obras arquitetônicas do Brasil, o grandioso Teatro Guaíra de um lado e a imponente e clássica Universidade Federal do outro, enriquecendo de maneira única a vista panorâmica. Aprecio também seus curvilíneos passeios em petit-pavé, os charmosos gradis de ferro em arcos sobrepostos, e as dezenas de valiosas esculturas ali existentes, especialmente aquela em homenagem a Alberto Santos Dumont, o pai da aviação.

(Marco Esmanhotto)