A fome do rico
O garotinho olhava do lado de fora do restaurante os pratos fartos serem ignorados pelos frequentadores, que falavam ao celular e aparentemente não tinham fome de verdade.
Então enfiava o dedo no nariz e fazia qualquer ruído para ser notado.
Em estatísticas dele mesmo, o sucesso parcial da operação era de cinquenta por cento.
As pessoas largavam de vez o prato e iam embora.
O sucesso completo da operação exigia que o garçom concordasse em embrulhar o que sobrou e lhe entregasse. Para esse caso a estatística caía para trinta por cento.
O garotinho era João e seus pais eram pessoas que não tinham medo do futuro.
O medo era do presente calamitoso que os colocou na rua por não conseguirem mais pagar o aluguel da casinha que moravam.
Agora os três tinham cama de jornal e teto de papelão, sem endereço fixo.
Bastava que o lugar estivesse seco e desocupado.
Cada vez menos havia lugares desocupados, e muitos dos novos ocupantes tinham barracas impermeáveis e planejamento familiar, sem filhos para que dividissem a miséria, a fome e o desespero.
Não tinham João e os trinta por cento de sucesso em suas performances.
Tinham apenas as barracas impermeáveis, a fome e o desespero.