A Garça Arrogante
10.03.22
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Ela mantinha a sua altivez a cada passo que dava. Suas pernas, finas e longas, pareciam quebrar-se ao caminhar. Seu corpo, de penas alvas como algodão, equilibrava-se imponente a cada passada. Sua cabeça pequena, com seu longo pescoço e bico comprido fino, contrapunha-se ao movimento. Chamava a atenção. Uma garça!
Todas as manhãs pescava tatuíras e baratinhas do mar no rés da areia molhada pela língua do mar. Não se importava com as pessoas. Algumas chegavam muito próximo. Ela impávida, indiferente e segura mantinha a sua rotina.
Um homem de barba ruiva, boné, camiseta e bermuda pretos, parou ao seu lado, quase a tocando. Ficou ali inerte observando curioso. Ele não a conhecia, pois era turista. Ela não lhe deu a mínima atenção, seguia enfiando agilmente o seu bico de agulha na areia. Ela agia assim com qualquer um. Eu já sabia de sua arrogância.
Então, um balé mudo entre eles se iniciou. A cada pequeno passo do homem tentando se aproximar, ela dava um. A cada dois, ela dava dois. Ele parava, ela também. Havia uma sincronia involuntária nos movimentos dos dois, dada a leveza e delicadeza com que cada um dava seus passos. Era uma visão interessante. Eu assistia a cena de “camarote” a alguns passos da dupla. Não perceberam a minha presença, seguiam compenetrados em seus movimentos.
Ela deus dois passos, o homem também. Ela voltou para trás com três passos, ele também. Faziam um dueto interessante, tendo o marulho do mar como música de acompanhamento. Ela parou e ficou inerte por instantes. Ele também! Acredito que tenha sido o “gran finalle”, pois o ruivo voltou para a sua caminhada na praia, deixando a arrogante garça plantada na areia. Minutos depois da partida do turista de preto, um casal também se interessou parando ao seu lado. Outra dança começaria?
Eu também continuei o meu passeio pela praia. A garça arrogante lá ficou, indiferente.