O Barco, a Moeda e a Dançarina
28.02.22
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A praia é o local onde vemos situações inusitadas e inesperadas. Foi o que presenciei naquele dia.
Vou semanalmente a praia do Santinho, ver como está o chalé em que morávamos e o nosso gato, Pebas. Ainda não o trouxemos para a nossa nova moradia. A vizinha, que aluga o chalé ao lado do nosso, nos está ajudando alimentando-o com a ração que deixamos, enquanto não o trazemos para junto de nós.
Cheguei cedo, pois fui de moto. Ao entrar no gramado do chalé, Pebas estava deitado em sua casinha. Vendo-me, começou a miar. Levantou-se e veio em minha direção. Sua vasilha estava vazia. Coloquei uma boa quantidade de ração, que comeu com voracidade. Estava faminto. Depois, como é peculiar dos gatos, lambeu suas patas demoradamente. Eu acompanhava sua higiene matinal. Limpo, enroscou-se em minhas pernas ronronando forte. Ficamos nos acarinhando por um tempo. Gostosa a nossa interação carinhosa.
Depois, fui até a praia para uma caminhada e banho de mar. Na areia, vi o pesqueiro que encalhou na semana passada. Cena insólita, ainda mais pela causa. Segundo ouvi de pescadores que estavam no dia do encalhe, que a tripulação bebeu bastante deixando o barco a deriva, vindo a quebrar o leme ao bater em uma rocha e encalhar na orla da praia. Levaram o dia todo para arrastá-lo com grossas cordas e duas potentes escavadeiras hidráulicas até onde jazia a embarcação que admirava naquele momento. Fiz um vídeo e tirei algumas fotos da incrível história com o meu celular.
Indo em direção oposta ao barco, parei para mandar as imagens. Enviadas, vi na ponta do meu pé, uma moeda de vinte e cinco centavos na areia. Estava a minha espera. Antigamente, as encontrava com frequência, mas há algum tempo que não. Meu pai dizia que dinheiro não aceita desaforo. Peguei-a e coloquei-a na minha carteira, como um amuleto. Feliz!
Segui caminhando, aproveitando o lindo dia na praia. O céu estava azulíssimo, quase anil, e o sol, escaldante. Fazia um calor tórrido. O mar estava frio. Andava com a água nos calcanhares vendo os surfistas montando as ondas, observados por algumas fragatas planando alto no firmamento. Batia uma brisa fresca, que também refrigerava o ambiente.
Andei por mais de vinte minutos e parei. Dei um mergulho na água fresca e refrescante. Foi delicioso o banho de mar.
Voltei para pegar a moto e ir para o chalé. Deixei-a estacionada em acesso à praia, próximo ao barco encalhado.
No caminho, vi estupefato, uma inesperada dançarina do ventre, ruivíssima. Não acreditei. Vestida a caráter e sensualíssima, fazia sua performance junto ao quebrar de pequenas marolas, que o mar lhe oferecia. Era filmada pelo companheiro. Fiquei perplexo pelo inusitado do encontro. Acompanhei toda a apresentação, como o balançar da sua cabeça, o desenrolar dos seus braços em movimentos limpos e cadenciados, e do seu ventre, requebrando intensamente como se ele fosse saltar do seu corpo. Perfeita. Ao final, bati-lhe palmas. Ela sorriu agradecida.
Vi muitas coisas acontecerem na praia, mas como essa, nunca ainda.
É de fato um lugar sui generis, pois tudo é possível. Voltei feliz para o chalé com a minha moedinha da sorte na carteira. Ganhei o dia.