Mergulho
Queria ter ficado um pouco mais,
Esperado o café da tarde coado no bule sem tampa, tomado na hora pra não esfriar
Mas Elio precisava dormir
Correra o dia inteiro
Brincando com as galinhas
Com a terra e com ele mesmo
Achando graça em sua própria companhia
Comendo terra com farinha.
Eu, mergulhei naquele restante de sofá coberto com um pano velho,
Confortável como nenhum outro
Pude dobrar minhas pernas
Me recolher nas palavras lidas
Não poderia findar a tarde sem que chegasse o fim da estória
Mais uma frase, um parágrafo e Elio já deu seus sinais
Faltaram poucas páginas,
O carro estava queimando, o sol bem no rosto dele
Peguei um livro que saltava da bolsa, não foi o lido do dia
Coloquei sobre seu rosto tampando o sol por alguns minutos
“O sol na cabeça”
Não foi proposital.
Elio chegou dormindo e eu não consegui fazer outra coisa
Corri para as páginas restantes
Mergulhei
Vi a janela e a professora e ouvi os passos de L que findaram o enredo
A cabeça a mil
Estaria L se aproximando para findar o que começou
Ou seria um delírio do personagem e o próximo dia amanheceria com as imagens vibrantes de Vega, e as orações do primo e da tia...
Queria compartilhar minha turbulência,
Tirei foto de uma página, coloquei pro mundo e apaguei na mesma hora
Lembrei que diferente do personagem eu não estava salva
Estava longe disso,
Ninguém compreenderia, não precisaria, e eu não gostaria
Comecei a apagar de sono
Deitei com a cabeça revirando
Via Vega, as imagens no banco da igreja e o Flamboyant como imaginei ser
Até explodir a ansiedade como o joelho
E eu levantei pra tomar um café.
Nada parecia estar no lugar.