FIGURAS DA BAHIA - PAULO SATANÁS, O TERROR DA NAVALHA!
Nestes dias que passei na UTI, acometido pela COVID19, por falta do que fazer, já que me encontrava imobilizado, preso ao leito para receber oxigênio, soros e outros medicamentos, andei fazendo uma viagem pela minha passagem aqui no Planeta.
Passei a recordar fatos da infância, da adolescência e mais tantos que povoaram a minha longa existência. E agora estou disposto a contar alguns, aqueles que são publicáveis, uma vez que tenho minhas reservas quanto a fatos que envolvam romances e outros que seriam censurados pelo sentimento ético que norteia a minha vida.
O CINE LICEU E “OS PÁSSAROS” DE HITCHOCK
Corria o ano de 1965 quando o Cine Liceu anunciou Os Pássaros, do grande diretor Alfred Hitchock. Minhas irmãs Teresa e Stella, além da minha então cunhada Terezinha, mostraram-se interessadas em ver o filme que vinha recomendado como uma grande produção do Hitchock. Marcamos horário noturno e fomos do Rio Vermelho para a Praça da Sé, em Salvador, imediações das melhores salas de cinema da Capital da Bahia, naquele período.
Chegando no destino, como não havia vaga para estacionar muito próximo ao cinema e pelo fato de estar neblinando, parei o Jeep e elas desceram para me esperar no vestíbulo do cinema. Logo, logo estacionei e fui ao seu encontro. Na entrada do Liceu, deparo-me com uma cena grotesca. Um malandro de branco havia agarrado o cabelo ‘rabo-de-cavalo’ de Terezinha e insistia em segurar, enquanto ela lutava para desvencilhar-se. Incontinenti, dei um empurrão no vagabundo e quando ele se virou, desferi um direto em suas fossas nasais, enquanto a Polícia chegava e dava conta do resto, levando o meliante para a delegacia da rua da Misericórdia, nas proximidades do local. Era a famosa Delegacia de Jogos e Costumes. Um dos policiais chamou-me a atenção para o fato de que eu havia agredido um sujeito muito perigoso: - O Sr. Já ouviu falar em Paulo Satanás? No momento fiquei indeciso, apesar de não ser estranho aquele inusitado apelido. E o policial continuou: - Ele é aquele bandido que cortou de navalha alguns passageiros do bonde da Liberdade quando passava pelo Ramo de Queiroz e aconselho-o a ter cuidado na saída do cinema, pois não estaremos aqui para protege-los. Ele é vingativo, frio e tem algumas mortes na conta! Fiquei perplexo!
Confesso que assisti o filme sentindo mais frio que o normal, embora a sala de cinema tivesse um ar condicionado central muito forte.
Na saída, pedi às meninas para esperarem um pouco, enquanto eu faria uma varredura na rua para ver se estava tudo tranquilo. Fui ao estacionamento, peguei o Jeep e parei bem na porta do Liceu. Elas entraram e eu toquei a barca para o Rio Vermelho. Não vi sinal do meliante. No dia seguinte, li na página policial que ele teria ficado preso pela agressão e o episódio passou.
Daí por diante, criei uma espécie de trauma pelo ocorrido e evitava ao máximo a ver filmes no Liceu. Procurava outras salas. Às vezes ficava irritado por perder bons filmes, uma das minhas mais repetidas corridas ao entretenimento, numa época em que a TV estava em fase muito embrionária em Salvador.
Passados um ano e meio, mais ou menos eu li que o meliante havia sido morto no baixo meretrício, onde ele circulava com certa frequência. Este é um fato. E como tal, o descrevo. Ad Perpetuam Rei Memoriam.