Torcida

25.02.22

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O gramado acabara de ser aparado pelo jardineiro. O cheiro de grama cortada impregnava o ar gostosamente com seu perfume fresco. Rolinhas, Pardais, Joões-de-Barro ciscavam por ele, pois insetos e minhocas surgiram. Um banquete.

Acompanhava, da janela do meu quarto, entretido com o balé dos pássaros. Andavam, lado a lado e em harmonia, com o sacolejar característico dos seus corpos e cabeças. Não havia disputa, pois a comida era abundante. Não piavam.

Chamou-me a atenção um João-de-Barro circundando um toco com aglomerado de folhas e galhos de orquídeas nos fundos do jardim. Foram presenteadas por irmã de minha mulher que mora no interior gaúcho – o trouxemos no carro junto com muitas formigas, que por um bom tempo vagaram perdidas no veículo, mesmo depois dele plantado no jardim. Brincávamos, dizendo ao encontrar com algumas delas:

-Olha uma formiga do Afonso - apontado para uma no para-brisa. Afonso é o nome do cunhado da minha mulher.

O passarinho olhava entretido para cima no emaranhado verde a sua frente. Avaliava a situação. Tentava bicar algum inseto ou minhoca, pulando para um buraco na folhagem em que deveria estar a deliciosa refeição. Não conseguia. Tentou novamente, se desequilibrou voltando ao chão. Suas tentativas foram infrutíferas. Não perdeu as esperanças. Deu uma volta ao redor do tufo com seus passinhos curtos e calmos, movendo a sua cabecinha para frente e para trás, típico dos Joões-de-Barro. Uma graça o bichinho.

Torcia para ele. Pensei em ajudá-lo de alguma forma, mas como? Melhor apreciar esse espetáculo que me proporcionava o Joãozinho.

-Vamos lá pequenino. Vai conseguir – disse-lhe da minha janela!

Dada a volta pelo tufo vegetal, parou e ficou observando com a sua cabecinha alta o local onde estaria a iguaria, pois o seu empenho e determinação eram grandes para obtê-la. O que deveria ser e que lhe dava tanto trabalho?

Ele mediu a distancia e pulou com a ajuda das asas para o buraco. Voltou novamente para a grama. Fiquei chateado por mais um infortúnio.

-Pena – murmurei sozinho.

Desalentado, mudou a direção do seu olhar. Desistiu. Caminhou com seus passinhos curtos e delicados, passou por debaixo do portão de madeira e se foi.

Quem sabe ele volte outro dia, ou amanhã e consiga. Vou continuar a torcer por ele da minha janela.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 25/02/2022
Reeditado em 25/02/2022
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