O Menino Catador de Nuvens
19.02.22
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Às vezes, tenho vontade de pegar as nuvens do céu.
De pequeno, deitado no gramado de casa, olhava-as passar mansamente, mudando as suas formas a cada minuto. Ficava embevecido e absorto com os braços estendidos, tentando pegá-las com os dedos das mãos. Inalcançáveis.
O tempo parecia parar. Nada me acontecia. Nada me atingia. Naqueles momentos, estava no meu mundinho lúdico. Era uma sensação deliciosa. Voava nos seus cavalos, cachorros e tantos outros animais que imaginava e gentilmente elas me apresentavam. Era docemente feliz com as nuvens no céu.
Às vezes, tento voltar a pegá-las, mas não consigo mais. A vida me fez passar por elas sem mais me importar, tornando-me frio e insensível. Triste.
Hoje, em viagem de automóvel, lindas nuvens alvas como algodão passeavam comigo. Tentei pegá-las, como quando criança, mas escapavam. Fugiam, dissolvendo-se no céu anil. Pena.
Fogem assustadas da minha maturidade. Talvez, eu não tenha mais a leveza e a ingenuidade daquele tempo. Perdi muitos anos sem ter tentado, como hoje, pegar as nuvens do céu. Pena.
Mas vou continuar tentando, e quem sabe, de tanto incomodá-las, deixem-me. E serei feliz, como era o menino catador de nuvens que tenho adormecido em mim.