O desejo da grávida de Quixepó

Claudyane e seu marido moravam no sul do país. Ela estava no terceiro mês de gestação. E o seu marido, de nome Vivalvo, precisou ir ao sertão nordestino para visitar os avós, que estavam bem velhinhos e debilitados. Mas, daquela vez, Claudyane não pôde acompanhá-lo por causa do trabalho.

Vivaldo passou quinze dias em Quixepó. Por lá, ele comeu de tudo que teve vontade e pôde matar a saudade dos dez anos ausentes. Se comia um pirão de galinha-caipira, uma farofa de torresmo, ela mandava foto para a mulher.

Certo dia, ele estava comendo uma fruta-de-palma e fez uma postagem, dizendo: “Olha que delícia da caatinga!” Vivaldo só não sabia o problemão que isso daria...

Às duas da madrugada, daquele mesmo dia, Claudyane ligou para ele dizendo: “Mô, tou com desejo de fruta-de-palma. Eu não dormi até agora. Já roí três unhas e a metade da capa do celular, pois tá com cheiro de fruta-de-palma”. Isso foi suficiente para seu marido se desesperar. Resultado: ambos passaram a noite quase toda em claro.

No dia seguinte, Claudyane não foi trabalhar e pediu que Vivaldo voltasse correndo com, pelo menos, meia dúzia de frutas-de-palma na bagagem. Ele tentou convencê-la de que não seria possível porque estava de passagem marcada para “dia tal”. E tudo piorou. Claudyane, que sofria de transtorno de ansiedade, foi procurar a sua irmã para levá-la ao médico, pois queria um atestado para quatro dias – tempo em que Vivaldo estaria de volta com as frutas-de-palma para ela.

Chegando ao consultório médico, Claudyane foi logo atendida. E assim que ela começou o seu relato, o psiquiatra, pacientemente, disse: “Entendo”. E aquela grávida levantou da cadeira parecendo uma fera:

– Entende do que doutor?

– Entendo do que se passa neste momento com a senhora, D. Claudyane.

– Doutor, o senhor nunca ficou grávido e nem vai ficar! O senhor não sabe o que é desejo! O senhor sabe o que é vontade. Vontade de comer uma pizza, de comer um salmão, de tomar um vinho do Porto..., mas duvido que o senhor saiba o que é DESEJO de comer fruta-de-palma... Acho que o senhor nem sabe que essa fruta existe! Sabe?

O médico sorriu e disse:

– Tudo bem, minha querida. Daqui a pouco você vai desejar rasgar o meu diploma. E o que é que eu vou fazer?

– Não sei, doutor. Por enquanto eu só desejo comer fruta-de-palma. Mas se eu tiver outro desejo, eu volto!