Três versões mentirosas para esconder uma verdade
Padre Misael resolveu que naquele tarde de sábado, a pedido de moradores daquela comunidade rural, iria dar fim a uma desavença de 15 anos entre duas senhoras que residiam praticamente de frente e separadas pela estrada vicinal.
A primeira visita ocorreu a Joelma, 63 anos, viúva e mãe de três moças ainda solteiras. Alegou, em sua defesa, que a vizinha (nem quis pronunciar o nome) falava horrores das suas donzelas. Padre Misael deu os conselhos como recomenda a Santa Madre Igreja e se dirigiu à casa da fofoqueira.
Vitória, 65 anos, mãe de um casal e separada, contou que a bruxa (sem pronunciar o nome) é muito invejosa e por conta disso (entre outros tantos prejuízos) seis de suas vacas já pararam de produzir leite e quatro acabaram morrendo; as outras duas nunca mais emprenharam. A pedido da prejudicada, padre Misael benzeu a propriedade e pediu paz.
No seu retorno o vigário parou numa bonita morada para fazer uso do banheiro e se admirou ao ver a casa bem arrumada com um único e bem-apessoado morador.
Ao revelar o motivo de sua passagem por aqueles lados, Lourival (60 anos) indagou se algumas delas haviam citado seu nome. Mas padre não pode mentir. No entanto, percebendo a notável preocupação, resolveu interrogá-lo sobre a desavença.
- Empréstimo bancário, avalista. Respondeu Lourival sem maiores detalhes nem citando o nome da culpada.
Seguindo o caminho de casa e pensando com os botões de sua longa batina, o padre concluiu que naquele triângulo de terra havia outro triângulo. Se lhe fosse permitido mentir, teria obtido uma confissão involuntária do solitário morador.
- Três deslavadas mentiras escondendo o pecado. Foi a conclusão do pacificador.