Anarquia no Coletivo

- Quisera eu que as coisas fossem assim, pensou Bernardo quando adentrava no ônibus. Aquele ônibus lotado que não cabia mais nem mais um pé de gente, ele refletia como seria o mundo se a sociedade fosse governada não por regras estabelecidas pelo o Estado e sim apenas pelo o respeito entre as pessoas, o bom e o velho respeito iriam reger o comportamento da sociedade, a consideração pelo outro iria ser regra. Imaginava ele uma nação sem a presença controladora do Estado, sem os mecanismos de cobrança de impostos e sem a opressão excessiva dos aparatos policiais, um mundo justo onde a liberdade poderia ser exercida em plena plenitude. Suspirou Bernardo de exaltação, quando sentiu o primeiro empurrão em suas costas dentro do ônibus, uma senhora gorda, roliça que o tinha empurrado sem ao menos pedir licença. Bernardo depois do susto repentino, voltou a imaginar de como seria o seu mundo ideal. Refletiu mais um pouco e tentou lembrar que tipo de governo seria esse regido pelo o respeito e pela liberdade e lembrou que esse sistema só poderia ser regido pela anarquia lembrou ele. Ah! Anarquia, suspirou Bernardo. Que palavra mais bonita rima até com alegria e harmonia pensava ele. E começava a suspeitar que a ordem natural vigente que regia o mundo cósmico também seria a Anarquia, por que não? Indagava ele. O que faz os planetas não colidirem com os outros ou as estrelas não engolirem os corpos celestes que vivem em sua órbita, deve ser o respeito inato que até os astros possuem entre eles. Então por que esse sistema social e político não poderia ser implantado também na sociedade dos humanos?

Mergulhado em seus pensamentos entrou mais uma leva de pessoas, maioria composta por jovens que entraram no coletivo gritando, berrando e empurrando quem encontrasse pelo caminho. Bernardo mais uma vez foi vítima desses desordeiros sem noção. Passado a metade do trajeto até sua parada Bernardo havia conseguido uma cadeira, finalmente iria sentar e descansar dessa longa jornada diária, quando viu uma senhora com seus oitenta anos de idade esquiva e já corcunda de levar o peso da idade, não pensou duas vezes e ofereceu a cadeira para velha senhora, porém de repente um homem avançou e sentou no local reservado para pobre senhora que desapontada tanto quanto Bernardo apenas balançava a cabeça como sinal de indignação. Bernardo consentiu aquele descontentamento e resignado com aquilo tudo ele deu crédito mais uma vez que a melhor forma de governo seria a anarquia de fato. E com certeza estava mais convicto de suas ideias. Não haveria mais opressão do homem pelo homem, não haveria mais divisão de classes, não existiria mais partidos tudo poderia ser feito enquanto o respeito do outro fosse garantido em sua total plenitude. Ah! como seria realmente bom se vivêssemos em tal ordem social. Não haveria mais crimes, mais furtos e nenhum tipo de agressão ao semelhante, refletiu ele. Pois agora todos teriam as mesmas condições de acesso. Teriam empregos garantidos, casa disponível, um salário digno e mais o respeito pelo o outro iria imperar em todas as relações humanas. Suspirava ele enquanto se deliciava com seus pensamentos mesmo que distantes.

Pensou ele mais uma vez, até as pessoas desse ônibus seriam mais educados se vivessem pela ideologia anarquista. Faltavam duas paradas até o seu destino final, quando um homem embriagado discutia com o trocador lá atrás e passou a roleta do coletivo sem pagar. O cheiro que o homem exalava era insuportável, os seus trajes desgastados não combinavam com a sua fisionomia que parecia de ser de um homem bem sucedido na vida. Depois de muita dificuldade de andar no ônibus em movimento o bêbado chegou ao meio do ônibus que insistentemente e começou a discursar para todos, mesmo sabendo que os outros não queriam saber de sua vida. Contava ele que havia falido sua empresa com empréstimos exorbitantes e que impossibilitado de pagá-los havia entrado em falência, junto com a perda econômica, dizia também que sua mulher o havia lhe deixado. Sabendo ou não se sua história era real tentava comover a todos do ônibus e parece que ninguém lhe dava importância. Bernardo teve que aguentar aquele homem intransigente até chegar no final da sua parada. E quando chegava perto de sua parada já resignado de sua sociedade perfeita deu o sinal para descer o motorista com o som alto não escutara o sinal e Bernardo depois de tanto gritar para descer só conseguiu sair do coletivo três paradas depois da sua.

Descendo do coletivo percebeu que a sociedade jamais seria governada apenas pelo o respeito de um pelo o outro. Os instintos egoísta e quase animalesco dos humanos ainda estavam presentes neles em pleno século XXI, ideais esses que faziam com que as pessoas só pensassem nela mesmo e nos seus próprios ganhos. A garantia do respeito que um indivíduo teria ao outro era através de um poder centralizador que garantiria através do monopólio da força que todos respeitassem os direitos do outro. O poder deveria emanar de um Estado forte que controlasse os instintos destrutivos que os seres humanos possuem. Só assim pensava ele, existiria harmonia entre os cidadãos e a sociedade iria atingir uma evolução natural. Sua ideia de Anarquia foi por água abaixo, por que ele esqueceu do princípio básico que rege esse sistema o respeito. Seu ideal de sociedade perfeita vivida com a Anarquia só poderia existir no mundo das ideias porque ele chegou à conclusão que o individualismo é necessário para proteger a sua própria integridade e o inferno são os outros.

Recontagem do Conto Anarquia Coletiva com o aprofundamento político e social do caso.

Davi Freitas - 08/01/2022

Kaynne
Enviado por Kaynne em 08/01/2022
Código do texto: T7425016
Classificação de conteúdo: seguro