Manu
03.01.22
388
Conheci-a agora na passagem de ano. Manu é o seu apelido, Manuela, o seu nome. Esperta e vivaz, uma graça, nos seus quase cinco anos de vida a completar neste mês de janeiro.
Tem o corpo magro, cabelos castanhos escuros, olhos vivos castanhos também e um sorriso largo e franco. E ativa, com muita energia. Manu tem personalidade forte, percebe-se pelo seu jeito de falar e olhar.
É neta de um irmão da minha mulher que mora em cidade no interior do Rio Grande do Sul, quase na divisa com a Argentina. Fomos passar a virada do ano com eles, pois fugimos de Florianópolis, um inferno nesta época lotada de turistas.
Chegamos no dia 29 de dezembro e ficamos até o dia 1º. do ano. Passamos dias deliciosos, principalmente com a Manu, a alegria da casa. É a primeira neta, filha da filha deles. Têm um filho também que mora em Foz do Iguaçu, sem sucessores ainda e não pôde estar conosco por trabalhar – é controlador de voo. Uma pena!
Ao chegarmos, ela nos avaliou com olhar firme, não se deixando cativar por qualquer brincadeirinha minha. Exigente! Percebi e não lhe dei muita atenção. Esse era o jogo.
Cumprimentei-a. Arredia, até então, correu para o sofá no qual assistia tevê com o avô. Mas curiosa, espichava o olhar a cada ação nossa.
Não tivemos muito contato neste primeiro dia, pois chegamos ao final da tarde, estávamos cansados e dormimos cedo. Ela não, antes das onze horas da noite, apagava a sua faceirice. Sua vozinha estridente ecoava pela casa até esse horário.
No dia seguinte, Manu acordou pelas nove horas da manhã. Já tínhamos tomado o café da manhã e combinávamos ir a uma trilha na mata até um rio com corredeiras e pequenas cachoeiras que a sua mãe conhecia. Ela arregalou seus lindos olhinhos castanhos espertos de felicidade pela novidade e deu um sorriso franco. Delicioso!
Já conversava comigo. Mostrou-me a sua coleção de bonequinhas de sereias coloridas, dizendo a cor de cada uma. Para incomodá-la, comecei a falar as cores erradas.
-Olha esta aqui, é azul (era vermelha)!
-É vermelha a cor dela, não azul! Você não aprendeu as cores ainda? Já está bem grandinho, hein? - Muito perspicaz foi a sua observação. Deliciava-me com a sua desenvoltura ao falar precoce como um adulto.
Fomos até o local da trilha, junto a uma escola rural afastada do centro da cidade, onde há este passeio para os alunos terem contato com a natureza. Lindo o lugar, mas o calor estava muito forte. Poucas pessoas sabem que faz muito, mas muito calor no verão neste estado e ficam impressionadas quando comentamos esta característica climática da região, pois acham que só o frio impera. Naquele dia beirava os quarenta graus, a infernal temperatura.
A trilha era por uma mata bem fechada, amenizando os efeitos do calor tórrido. No caminho, havia várias árvores e plantas características da região com o nome indicado por placas. Chegamos ao riacho de leito pedregoso e águas escuras e rápidas, abrandando mais ainda a sensação térmica. Paramos em uma piscina natural que o riozinho fazia e Manu tirou da sua mochilinha uma das bonecas sereia, colocando-a na pequena correnteza para ir boiando até o seu avô em pé na água mais à frente. Era a vermelha que lhe dissera azul.
-Olha, ela sabe nadar! – exclamei vendo o brinquedo flutuando na corredeira.
-É claro que ela sabe nadar! Se não, não seria sereia, não é mesmo? - respondeu-me afirmativa e segura. Rimos da sua resposta perfeita.
O passeio seguiu agradável, entrei no riacho em uma das suas piscinas naturais, refrescando-me na água fria.Voltamos ao carro e para casa. Manu seguia falante, ora cantava, ora falava coisas que não se entendia, mas feliz e faceira no seu mundinho. Gostoso de se ver e ouvir.
Estávamos em cinco adultos e ela. O seu avô ia sentado ao meu lado, eu era o motorista e as mulheres atrás. Manu ia ao colo da sua mãe, entre minha mulher e a sua avó.
Durante a viagem, seu avô a importunava seguidamente com a sua mão para trás pegando-lhe as pernas, deixando-a brava. Em dado momento ela disse de supetão:
- Vô, você me ama tanto que me incomoda!
O riso foi geral no carro pelo inusitado da sua fala.
-Essa menina vai dar trabalho, hein? – disse ao avô sem ela escutar.
-Vai dar?
Foi um grande prazer te conhecer, Manu.