Carta ao Papai Noel
CARTA AO PAPAI NOEL
Miguel Carqueija
Prezado Senhor Papai Noel:
Com certeza o senhor não me conhece. Sou um menino pobre, muito pobre, tenho nove anos de idade. Aos três anos, ouvindo falar no senhor, esperei que me trouxesse algum presente pelo Natal. Esperei todos esses anos, mas o senhor não me apareceu e não me trouxe nada.
Eu nunca recebi presentes de ninguém. Meus pais só me dão cascudos. Mas eu estou na escola pública e embora todos sejam pobres, há colegas que não são tanto. É engraçado, muitos têm vida melhor, até têm o que comer em casa, e esses recebem presentes de Papai Noel. Quer dizer, o senhor vai na casa deles e não na minha e nem de outras crianças pobres como eu. Será que o senhor não gosta de pobre?
Sim, eu acho engraçado. Dizem que o senhor é o “bom velhinho”. Mas se o senhor é tão bom assim, por que não me dá brinquedos? Eu não tenho nenhum e logo não terei nem infância, meu pai falou que ano que vem vai me tirar da escola e vai me botar para trabalhar.
Acho até que sei porque é que o senhor presenteia os ricos mas não os pobres. É que tem muito mais pobre que rico e o senhor com certeza não tem tempo de visitar todo mundo. Mesmo usando helicóptero, pois parece que o senhor aposentou as suas renas.
Contaram-me que o verdadeiro dono do Natal é o Menino Jesus, aquele do Presépio, e que Ele sim ama os pobres, pois nasceu pobre.
Só que o senhor o expulsou de toda parte e eu não vejo mais presépio em lugar nenhum.
Vou parar por aqui, Papai Noel, depois vou ver se arranjo um selo para mandar essa carta. Vou parar, porque a barriga está roncando de fome e como não tem comida, eu vou dormir para não sentir fome.
E que o bom Jesus me perdoe, mas... Papai Noel, eu detesto você!
Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2021.