QUEM FOI?
QUEM FOI?
Toca a sineta anunciando o início das aulas.
Dona Carmosina, professora de Canto Orfeônico, senhora já avançada na idade e bastante acima do peso, entra na sala e cumprimenta, sorridente, os alunos. Eles se levantam e, após responderem, sentam-se e aguadam, resignados, mais uma aula de teoria musical, sempre iniciada com o sopro do diapasão.
- Hoje, depois que cantarmos o Hino Nacional, ensinarei a vocês o nosso magnífico Hino à Bandeira, cuja letra foi elaborada pelo poeta Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac. Reparem que há poesia até no seu nome. Um Alexandrino perfeito, ou seja, um verso com doze sílabas.
A um sinal de Dona Carmosina, todos ficam de pé e, após o soar do diapasão, entoam o Hino Nacional Brasileiro.
Quando terminam, Simplício, o mais baixo da turma, permanece de pé, com um braço levantado.
- Algum problema, Simplício? Não me diga que quer ir ao banheiro, pois vocês acabaram de entrar em sala.
- Não, professora. É que tenho dúvida sobre uma palavra do Hino.
- Dúvida? A letra do Hino Nacional é claríssima. Diga lá o que não entendeu.
- Garrida, professora. Não tenho dicionário em casa e sempre me esqueço de consultar o da biblioteca da escola. Já reparei que não sou o único ignorante do significado de garrida. Tem gente até que canta “do que a terra, margarida”.
A gargalhada é geral e D. Carmosina tem de gritar com a turma para impor silêncio.
- Isso não é atitude de pessoas que estão aqui para se educar. Um ligeiro sorriso, vá lá, mas algazarra diante da ignorância do colega é fato que espero, não se repita!
Constrangimento geral. Todos se calam e baixam as cabeças.
- Garrida, quer dizer elegante. Também pode ser traduzida por graciosa. Ambos os sentidos cabem no que o poeta quis dizer da Pátria. Vamos ao Hino à Bandeira.
Novo sopro no diapasão e Dona Carmosina canta, sozinha, a exaltação ao símbolo da Pátria.
Depois da distribuição impressa da letra, toda em maiúsculas e de repetidas entoações da turma, a professora parece satisfeita. Todos se sentam, menos o Simplício. Como na vez em que cantaram o Hino Nacional, ele permanece de pé, com um dos braços levantado.
- O que é agora, menino? Dúvida quanto a alguma palavra do hino, ou desta vez quer mesmo ir ao banheiro?
- É dúvida e agora não é de palavra.
- Diga lá, suspirou resignada a professora.
- Dona Carmosina, quem foi Augusto da Paz?