VÉSPERA

Há mais de dez anos fazia plantão de 36 horas na véspera e no Natal. Quando lhe perguntavam o porquê, dizia que não gostava da data. O que era uma meia verdade. O ponto era que esse era um feriado de estar com a família. À da sua esposa não fazia questão da sua presença. À sua ele fazia questão de não estar presente. Então torrava seu 13⁰ no Réveillon e pagava as contas de começo de ano com o que ganhava nestes dias a mais que trabalhava.

O colocaram no P.S. Qual não foi sua surpresa ao ver seu colega de infância, Zé Burro, dar entrada por tentativa de suicídio. Passado o susto, ele já entubado, percebeu o quanto isso era esperado. Os filhos nas drogas, a esposa faleceu com ele bêbado como um gambá, sua mãe a mesma coisa. Se não fosse em um ato assim desesperado, seria lentamente curtido no álcool. A data sempre chamava para o abismo àqueles que a vida derrotara.

Pediu para sair um pouco. Ligou para a assistente social da Emergência. Depois que ela o xingou de todos os nomes pelo caso mal acabado, ele pediu para que ela arrumasse uma internação para depois da alta dele.

Quando desligou, acendeu um cigarro. Aquele favor ia lhe custar mais algumas noites com a doida, mais dor de cabeça.

- Feriado do caralho!! Todo ano eu só ganho bucha! Jogou a bituca com raiva contra a parede e voltou para o setor.

Diogenes R Cardoso
Enviado por Diogenes R Cardoso em 25/12/2021
Código do texto: T7414607
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